Tratamento responsável e suporte familiar ajudam a vida do paciente diagnosticado. OMS estima que existem 4 milhões de pessoas com a doença no mundo. Formação de grupos ajuda na reabilitação
Abril é o mês de conscientização sobre a doença de Parkinson. São duas datas reservadas para trazer à luz aos desafios da vida com o diagnóstico. Dia 4 de abril é a data de conscientização nacional e 11 de abril o dia mundial para refletir sobre a doença na sociedade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existem aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo com a doença, o que representa 1% da população mundial a partir dos 65 anos.
Para Marcus Fonseca, de 66 anos, o diagnóstico da doença foi implacável. “Quando você recebe a notícia, tudo muda de repente. E agora, como será minha vida?”, relata o carioca aposentado, relembrando os momentos de tensão que viveu na época do diagnóstico. “São inúmeras as incertezas e os pensamentos negativos começam a predominar: vou perder minha autonomia? Quando? Quanto tempo eu tenho de vida ‘normal’?”, conta.
Fonseca explica que passou pelo momento da “catastrofização”, uma distorção cognitiva que faz o paciente pensar que o pior irá acontecer e que tudo será terrível e insuportável.
Em vídeo, Marcus revela as dificuldades que pessoas com essa condição possuem ao fazerem atividades do cotidiano, como pegar um ônibus, segurar um talher, sentar em uma poltrona e se levantar, cortar um alimento e outras pequenas ações.
“Eu deixo aqui um recado pra todos aqueles que têm parentes, são cuidadores e até os pacientes, para que procurem um grupo de apoio. Porque muitas das coisas que nós sofremos hoje não têm cura, mas é possível minimizar e mitigar seus efeitos”, diz o criador do site Tenho Parkinson.
De acordo com dados da Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, a doença de Parkinson é a segunda patologia crônica do sistema nervoso central mais frequente no mundo, atrás apenas do Alzheimer.
Causas, tratamento e vida social
O médico neurologista Marcelo Lobo explica que o Parkinson é causado pela perda dos neurônios que produzem a dopamina no cérebro, substância que está associada ao controle dos movimentos e outras ações.
Apesar de não ter cura, a doença pode ser tratada quando descoberta logo no início. O médico explica que a intervenção principal se baseia na reposição da dopamina ou no uso de substâncias que produzem um efeito similar ao do neurotransmissor.
“O diagnóstico é clínico e se baseia na presença dos sintomas parkinsonianos, como a lentidão de movimentos (predominando em um dos lados do corpo), rigidez ao movimentar braços e pernas, e tremores mais evidentes, por exemplo”, afirma Lobo.
Segundo ele, apesar de o Parkinson ser mais comum em pessoas idosas, pode acometer indivíduos em qualquer idade. No entanto, acima de tudo, Marcelo destaca que é possível viver bem com a doença.
“Em primeiro lugar, é necessário ter uma atitude positiva em relação à vida, entender que é uma doença degenerativa, mas que, de modo geral, progride lentamente. Fazer atividade física, cuidar do sono e do humor, tratar a depressão e a ansiedade, ter uma boa alimentação, estimular a memória e fazer acompanhamento médico regular são atitudes essenciais”, pontua.
O médico ainda explica a importância de grupos de apoio para pacientes, familiares e cuidadores de pessoas com Parkinson. “Ter esse tipo de contato com pessoas que estão vivenciando questões de saúde semelhantes costuma ajudar bastante”, conclui o médico.
Rede de apoio
Com o intuito de desenvolver ensino, pesquisa e extensão sobre reabilitação na doença de Parkinson, em 2011, o professor universitário Clynton Corrêa criou o Grupo de Estudos na Doença de Parkinson (Gedopa), no Rio de Janeiro.
O carioca de 45 anos explica que o objetivo da associação é, dentro de uma perspectiva interdisciplinar, abranger áreas de conhecimento da neurologia, fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, nutrição, assistência social e enfermagem no âmbito da doença.
O Gedopa atua como uma rede de apoio, oferecendo aos pacientes orientação por meio de consultas e programas de reabilitação, conduzidos por profissionais especialistas. “Nos nossos atendimentos realizados com grupos de pacientes são desenvolvidas dinâmicas interativas voltadas para a reabilitação em seu sentido mais amplo, onde o paciente é estimulado a conviver de forma positiva com sua saúde integral”, complementa o professor.
Para ele, as relações interpessoais fazem toda a diferença no tratamento e qualidade de vida daqueles que têm a doença.
Por Maria Regina Mouta
Fotos: Divulgação
Supervisão de Isa Coelho Stacciarini