Perfil: ‘Grego’ fiel come, bebe, viaja, dança e ensina

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Fernando devora um sanduíche com 13 anos de idade, em 2010. Foto: Arquivo pessoal

“Caramba filho, onde é que você vai parar?”, perguntou a mãe de Fernando Pappas após ver o garoto de 15 anos comer 3 cachorros-quentes e 4 fatias de pizza de uma vez. “Gordinho”, como era chamado pelos amigos, o jovem de 100kg sofria com obesidade desde a infância.

“Cê vê que esse negócio de ter sido gordo é uma questão grande pra mim, não à toa, tô comendo uma fraldinha com brócolis e tomate. Infelizmente ou felizmente, eu vou ter que cuidar da minha alimentação para o resto da vida”.

A frase da mãe fez com que o garoto mudasse de vida de forma radical. Hoje em dia, com 26 anos, Fernando, que é engenheiro eletricista, controla todas as suas alimentações, em um aplicativo de celular, independente do que seja. 

Risco

A nutricionista Michele Ferro diz que “a utilização de aplicativos para contar calorias pode levar o indivíduo a ficar obcecado por isso podendo inclusive contribuir para o aparecimento de outros transtornos alimentares posteriormente”.

Segundo o Governo do Distrito Federal, em relação à população adolescente, observa-se um consumo de frutas abaixo do necessário.

“A redução do consumo de frutas está intimamente relacionada ao aumento do número de obesos. As frutas possuem nutrientes e compostos bioativos essenciais para o bom funcionamento do organismo humano”, afirma a nutricionista.

Bons hábitos

Criando bons hábitos, a frase da mãe de Fernando foi uma virada de chave. O que a mãe de Pappas falou… marcou de forma positiva o descendente de gregos.

“Minha vó é grega, desde criança eu a vejo cozinhar, e sempre de mão cheia. Há três coisas que os gregos fazem muito. Comem muito, bebem muito e dançam muito, e são três coisas que gosto”.

Quando criança, Fernando gostava da ideia de cozinhar, afinal o garoto tinha livros de receitas, assistia a programas culinários e gostava de acompanhar os entes cozinhando. E quem mais ensinou a ele sobre gastronomia foi a internet, principalmente durante a pandemia.

Novos dotes

O tédio de ficar em casa trouxe à tona diversas oportunidades para Pappas provar seus dotes culinários que aprendera durante toda sua vida.

Dionísio (Deus do vinho, na mitologia grega) teria se mostrado orgulhoso de ver Fernando fazendo todos esses pratos e ainda mais, combinando com vinhos.

”Quando comecei a beber, eu não gostava de vinho. Mas pensei comigo `peraí`, eu quero viver um estilo de vida sofisticado, sempre quis. E o vinho faz parte desse estilo. É importante ter o vinho em seu repertório social, saber diferenciar uvas e coisas assim. Então pensei novamente `vou aprender a gostar disso`, e não foi difícil”.

Hoje em dia, sempre que viaja, Fernando faz questão de provar um vinho local e faz questão de conhecer novas vinícolas. 

A principal prioridade para Fernando desde os 16 é viajar, “torrar dinheiro viajando, mas gastava muito mais do que deveria”, afirma.

Atualmente com 26 anos, ele conhece 20 países, e tem uma meta: conhecer 30 países com 30 anos. A dificuldade para completar a lista é engraçada, quase sempre, o garoto viaja para os mesmos lugares. 

Por aí…

Com um irmão morando em Portugal e outro nos Estados Unidos, muitas das viagens de Fernando acabam sendo ir para a casa dos entes, o que não é um problema para ele, já que sempre que pode os visita. Além das viagens para os países que residem seus irmãos, Pappas já foi à Grécia em algumas oportunidades conhecer e saber de suas origens.

Afinal, somos feitos de memórias. De saudades que doem, de lembranças que nos fazem sorrir, de cheiros que evocam paisagens e momentos perdidos no tempo como lágrimas na chuva. Se não pudéssemos reter e preservar esses sentimentos, talvez a existência não tivesse lá muito significado afinal. 

Fernando em viagem à Lituânia. Arquivo pessoal

Em uma de suas viagens para tantos países, Fernando foi para Roma, na Itália, com sua ex-namorada, em 2019. Aproveitando o passeio, decidiram ir ao Vaticano (a segunda vez do jovem). Fernando falou de como foi seu momento na Basílica de São Pedro.

Terço e o celular

“Eu me senti muito bem, é um lugar que trás muita paz e decidi rezar um terço, algo que eu nem sabia como fazer. Abri o celular, ajoelhei no banco e rezei o terço”.

Como nunca tinha rezado um terço, Pappas chegou a conclusão que Deus ficaria feliz com isso e rezou seu primeiro terço na vida. 

Nesse dia, Fernando colocou uma obrigação em sua vida: “Ao chegar no Brasil, eu passarei a ir à missa todo domingo, dito e feito. Eu acho que quando você se obriga a fazer uma coisa que você sabe que é certo, no fim das contas vai virar um hábito”. 

Só que logo tempos depois da decisão, a pandemia começou, e consequentemente as missas deixaram de acontecer e o propósito dele foi por água abaixo. Mas após um tempo, Pappas voltou a frequentar missas e seu propósito segue firme e forte, até mesmo quando está viajando.

O jovem já acompanhou celebrações em diversas línguas, até em lituano, mas grande parte dos países têm missas em inglês, mas como conhece a liturgia, e é a mesma em qualquer lugar do mundo, Fernando acompanha e entende bem. 

O grego ganhou um convite ainda no ano da pandemia de um padre da paróquia que frequenta, para fazer leituras durante a missa.

Engajamento

Com muito engajamento dentro da igreja, o coordenador da catequese convidou Fernando para ser um dos catequistas da paróquia. E o convite fez todo o sentido. Afinal, Pappas ama crianças. Decidiu aceitar o desafio. 

A partir daí, a catequese virou uma nova obrigação para o fiel. Todo sábado de manhã, ele dá suas aulas de catequese para crianças direcionadas à primeira comunhão. É uma atividade voluntária. É isso que vale para ele. Mesmo tão jovem, o filho de Patrícia Vassiliki, que é assíduo e comprometido, vai mostrando onde vai parar.

Fernando ministra uma aula de catequese na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro> Foto: arquivo pessoal

Por Filipe Fonseca

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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