A atividade física como forma de tratamento do câncer. Essa é a área de pesquisa do brasiliense Claudio Battaglini, que está radicado na Carolina do Norte (Estados Unidos). Ele fez os cursos de pós-graduação em universidades norte-americanas, é professor na universidade naquele estado. Ele foi influenciado por professores ainda jovem e se dedicou a pesquisar como o esporte pode auxiliar na fisiologia, no físico e no psicológico dos pacientes com a doença terminal. Hoje, é mestre e doutor em ciência do esporte, além de ser referência internacional na luta e prevenção contra o câncer.
Após sua formação, ele viajou aos Estados Unidos com um intuito bem diferente desse que o consagra, para treinar atletas. “Mas o meu objetivo principal foi estudar para ser um pesquisador do esporte, realmente melhor muito minha carreira de treinador e virar um estudioso do esporte. O meu objetivo era virar, realmente o melhor treinador de endurance (esportes de baixa e média intensidade, mas com longa duração) do mundo”, expôs. “A minha ida aos EUA foi como treinador. Dentro da educação física, eu comecei a trabalhar muito com a natação, eu criei um time de triatlo infantil e eu também tinha um time de natação máster à muitos anos atrás”, continuou. Ele treinou o que, segundo ele, é o maior triatleta do Brasil.
Confira vídeo divulgado pela UNC
“Eu treinava o Leandro Macedo, triatleta que foi campeão mundial em 1991, campeão pan-americano duas vezes. Ele apareceu na nossa piscina para nadar, gostou do treinamento, viramos amigos e ele em pediu para ajudar ele no treinamento, criamos aquela amizade e começamos a trabalhar juntos”, lembrou.
A partir do treinamento, começaram a aparecer oportunidades para trabalhar em uma grande universidade norte-americana. “Ele me levou para treina-lo no colorado. A partir daí, começaram a me aparecer oportunidades de ingressar em uma universidade americana. Em uma dessas oportunidades, eu abracei. eu fui embora dos EUA para fazer o mestrado, dentro da cinesiologia, fisiologia do exercício”, afirmou.
Battaglini, quando ainda estava no segundo grau, foi estimulado pelo professor de educação física a seguir nessa área. Como era praticante de esportes desde os quatro anos, essa foi um escolha “natural”. “Acabei me envolvendo realmente na educação física por muitos anos com essa conversa, com esse professor. Um dia, dentro da sala de aula, ele me estimulando a seguir novos caminhos e ter coragem de realmente explorar a possibilidade de virar um pesquisador”, disse. Com o passar dos anos, ele foi começando a perceber a importância do esporte em algumas instancias da vida.
“Eu sempre estive envolvido e acho que o esporte é uma ferramenta muito importante da educação, muito importante na saúde de uma comunidade, então realmente, para mim, foi uma decisão de ir para a educação física fácil de definir”.
O início da pesquisa
Apesar de todo o apoio que recebeu de sua mentora, a motivação de sua pesquisa foi algo que ele não esperava. “Ela teve câncer. Durante o tratamento começamos a perceber efeitos colaterais muito severos na fisiologia do corpo dela e ela começou a perder a energia, perdendo muita massa muscular, muito cansada e ai, um grupo de estudantes com alguns professores começaram a questionar o que eles poderiam fazer para ajuda ela”, pontuou.
Como a única experiência era a atividade física, eles juntamente com alunos e professores da universidade começaram a pesquisa sobre o assunto. “Alguém dentro do nosso grupo, resolveu olhar na literatura para ver se tinha algum trabalho de atividade física para pacientes com câncer. Chegamos a conclusão que era uma área que estava começando a se desenvolver dentro dessa área médica do esporte”, contou. Apesar dessa chance do crescimento da área, Battaglini não desejava seguir nessa área. “Eu ainda não queria me envolver com trabalho de câncer, eu realmente estava muito focado em me tornar um dos melhores treinadores de alta performance de esporte de endurance do mundo”, explicou.
Battaglini – Universidade da Carolina do Norte. Fonte: Professors with Passion: Claudio Battaglini / Youtube
Trauma
Passado o câncer, sua mentora decidiu montar um centro de reabilitação para pacientes que tiveram a mesma doença que ela. Esse foi o primeiro grande contato que ele teve com essa atividade. “Eu falei que ajudaria, mas que não sabia nada sobre o câncer mas eu poderia colocar uns equipamentos de ginastica para tentar fazer um trabalho com esses pacientes e, assim, foi fundado o Rocky Mountain Cancer Rehabilitation Institute e eu fui um dos estudantes fundadores desse projeto nos EUA”, disse.
Após montar o espaço para o trabalho, ele teve sua primeira paciente. Uma jovem, de 23 anos, que tinha câncer cerebral muito agressivo. “Os médicos deram para ela só seis meses de vida e nós começamos a trabalhar a atividade física. Eu comecei a treinar ele como eu trenava um atleta porque era realmente a única coisa que eu sabia fazer”, explicou.
Como é uma doença terminal e, eventualmente, ela iria falecer, o doutor Battaglini buscou reabilitar a capacidade funcional dela. O objetivo com essa paciente foi alcançado. Sem perder nenhuma sessão de treinamento, ela seguiu firme.
“Durante dois anos e meio ela nunca perdeu uma sessão de atividade física. Ela já estava em uma forma física muito boa, havia melhorado muito a capacidade funcional, estava com emprego de novo, tinha arrumado um namorado, estava com uma vida ótima. A atividade física realmente alterou a fisiologia dela”, narrou.
Nos últimos seis meses de vida, ela precisou viajar e acabou ficando um mês sem atividade física. Isso fez com o câncer fosse novamente diagnosticado e, dessa vez, mais forte. “Quando ela voltou da viagem, o câncer dela voltou de uma forma muito agressiva que acabou matando-a dois, três meses após o diagnóstico. Eufiquei chocado porque você desenvolve um relacionamento muito bom com a pessoa e eu fiquei muito chateado, muito triste e eu disse que nunca mais iria trabalhar com paciente com câncer”, lembrou. Apesar da morte de sua paciente, ele ficou intrigado com uma questão.
“Mas uma coisa ficou na minha cabeça. Será que se ela não tivesse parado de treinar, esse câncer não teria voltado?”, indagou.
Continuidade no trabalho
Depois do trauma com a ultima paciente, Battaglini tinha prometido a si mesmo que nunca mais iria trabalhar com isso. Apesar disso, ele ainda era requisitado para a função. Após conversa séria com sua mentora, ele resolveu seguir nessa área. “Eu fui para casa pensando e aquilo me tocou muito. Eu comecei a percebeu que eu poderia usar o meu talento para salvar uma vida ou então, ajudar uma pessoa a viver com o câncer, mas viver muitos anos, porque existem mães de crianças pequenas que tem câncer e que talvez não estejam aqui para ve-las crescendo”, relatou. Ele mudou de área drasticamente. Antes, só queria ser treinador de atleta profissional e depois, educador físico cuidando de pessoas com câncer.
“Isso me chocou muito e foi uma coisa que eu comecei a perceber que era muito mais importante do que ir para uma olimpíada e ganhar uma medalha de ouro. Qual o objetivo de ganhar uma medalha de ouro?”, completou.
Resultado
Os resultados das pesquisas, segundo ele, são fenomenais, “A melhora que nós temos visto nos pacientes são realmente fantásticas, mas ainda existem muitas pesquisas fundamentais que a gente ainda não conseguiu responder”, declarou. Ele ainda tem muitas esperanças a respeito dessa prática. “Essa é uma área que tem mostrado muita promessa de, um dia, a gente poder usar a atividade física como parte do tratamento das pessoas para proporcionar prognostico de longo termo muito melhor para esses pacientes”, comunicou. Depois de tantas pesquisas, ele ainda se estimula com tudo o que o cerca. “Instalei-me muito bem na universidade da Carolina do norte, aonde eu tenho um apoio muito grande da universidade, dos meus colegas , dos médicos”.
Gabriel Lima