Policiais militares de Brazlândia, a 50 km de Brasília, iniciaram, há um mês, um método diferente para se proteger das pressões e do estresse das ruas do Distrito Federal. Eles, que integram o 16º Batalhão de Polícia Militar, passaram a se submeter a uma terapia alternativa chamada de TRE (Tension and Trauma Releasin Exercises). Um dos principais incentivadores e pesquisadores do assunto é o médico Marcelo Amaral. Os policiais se interessaram pela prática a fim de diminuir os impactos causados pela profissão, o que incluem os traumas de se lidar diariamente com segurança pública e violência.
O sargento Ulisses Costa explicou que o trabalho está no começo, mas mesmo assim conseguiram quebrar a barreira dos policiais com tratamentos alternativos e tiveram muitas aderências. Ele contou que o objetivo é levar a prática à institucionalização para que dessa forma, o tratamento possa ser oferecido em todos os batalhões pela corporação.
A equipe de reportagem acompanhou uma sessão no batalhão que teve cinco policiais presentes. O número de participantes era baixo porque no mesmo horário muitos militares realizavam serviço externo na região. Apenas um estava realizando a prática pela primeira vez, e os outros contaram que já praticam a TRE em casa e sempre convidam os colegas a participar das sessões. O novato contou que já conviveu com diversas situações de intenso estresse como um tiroteio, e apoia a iniciativa para lidar com estes casos. Além disso, já realizou cirurgias de hérnia e coluna e disse que apenas em uma terapia já sentiu os efeitos de alivio.
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TRE é oferecida pelo SUS em Brazlândia

Uma terapia alternativa para tratamento contra estresse e traumas passou a ser oferecida pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal em Brazlândia. O Jornal Esquina participou de uma das sessões realizadas pelo médico e psicoterapeuta, Marcelo Amaral, que coordena os trabalhos. A TRE (Tension and Trauma Releasin Exercises) foi desenvolvida para aliviar as tensões do corpo. A prática está disponível para quem tiver interesse sem restrição de vagas, filas, lista de espera ou custo, mas apenas no Centro Infantil 02 e no Centro de Saúde da região.
Em 2013, foram oferecidos 31 encontros regulares para a prática de TRE em Brazlândia, com a participação de 703 pessoas. No ano seguinte, 846 participantes foram atendidos em 91 grupos realizados. No primeiro semestre deste ano, 477 pessoas participaram das atividades. Com a prática regular dos exercícios foram relatadas melhoras em quadros de insônia, dores musculares, ansiedade, estresse, fibromialgia, depressão, síndrome do pânico e transtorno de estresse pós-traumático. “Muitos efeitos benéficos foram observados nos cinco anos de prática de TRE em Brazlândia, e os exercícios ajudaram muito as pessoas que puderam praticá-los com certa regularidade”, disse o médico. Apesar disso, ele destaca que em muitos casos ainda há uma barreira das pessoas para conhecerem a terapia.
É costumo que após os exercícios realizados na sessão os participantes prestam depoimento de como foi a semana e como se sentiu durante a sessão de TRE. Os nomes foram alterados para preservar a integridade dos participantes. No caso da “Maria”, ela explicou que têm na família muitos casos de doenças e usuários de drogas. Com tanta pressão e traumas diários, a saúde dela foi afetada e foi diagnosticada com síndrome do pânico. Ela falou que apesar das dificuldades que ainda convive, com a prática do TRE consegue controlar e enfrentar os problemas do cotidiano. Não pretende parar mais com a terapia e já indicou amigas que também participam do tratamento.
Hiperatividade
Já o filho da “Tereza” sofre de hiperatividade, e já está há dois meses sem conseguir o medicamento que necessita. A mãe contou que o remédio está em falta, no sistema público. A TRE ajuda a família a conviver com a doença do menino. Com o relaxamento proporcionado nas sessões o garoto consegue se tranquilizar e controlar o seu comportamento. O filho da “Joana” também foi diagnosticado com o mesmo problema, o que estava criando dificuldades na escola. A solução também surgiu com a prática da terapia.
A TRE é praticada por meio de uma técnica simples de exercícios corporais que ajudam a diminuir o nível da ativação do sistema nervoso autônomo. Tremores espontâneos são induzidos em alguns grupos musculares para provocar um relaxamento profundo, tanto físico quanto mental. A prática foi desenvolvida pelo médico David Berceli, que viveu por mais de 20 anos em países assolados por catástrofes, desastres e conflitos armados. A experiência exigiu que ele buscasse novos conhecimentos e possibilidades de intervenção terapêutica para aplicar nesses locais onde as práticas clínicas usadas habitualmente são inviáveis.
Experiência
Em 2010, David Berceli veio a Brasília e ministrou um treinamento de facilitadores de TRE, que são os instrutores dos exercícios para os grupos. Após participar do encontro, Marcelo Amaral decidiu iniciar a prática na capital federal, e uniu a terapia com trabalhos desenvolvidos para saúde mental de adolescentes. Ele disponibilizou com exclusividade para o Jornal Esquina um capítulo do livro que está produzindo e ainda não foi publicado, onde explica como foi desenvolvido todo seu estudo para lidar com o estresse e trauma.
Marcelo Amaral iniciou em 2004 um serviço de atenção à saúde de adolescentes em Brazlândia, região onde grande parte da população vive em condições sociais e econômicas precárias. A partir daí foi constatado que os problemas familiares eram gerados por estresses e traumas, e para lidar com isso os jovens expressavam seus conflitos por meio de uma alteração de comportamento. Dessa forma, os grupos de TRE tornaram-se uma atividade paralela ao atendimento no centro de saúde.
Profissional
Lívia Batista, de 30 anos, é fisioterapeuta e faz parte do grupo de apoio às equipes de saúde da família de Brazlândia. Após seis meses de curso, Lívia tornou-se facilitadora e já realiza este trabalho há três anos. “O curso exige muita dedicação. Gosto de conduzir esses grupos. O relaxamento dessas pessoas me deixa muito contente, e eu acabo relaxando também”.
No dia da sessão em que a equipe reportagem do Jornal Esquina estava presente, Lívia era participante e não facilitadora. “Todo mundo tem estresse, eu também. Às vezes fico muito envolvida com o trabalho e acaba que essa carga fica em forma de dores e tensões musculares”.
Por Larissa Rocha e Rodrigo Santori – do Jornal Esquina