PMs no Brasil morreram mais de suicídio do que em confrontos ou à paisana, aponta pesquisa

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No Brasil, segundo o último Anuário Estatístico de Segurança Pública, morreram mais policiais militares por suicídio (110) do que em confrontos em serviço (46) ou em atividades fora de serviço (61), o que soma 107 casos.

A Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF), apenas no ano de 2023, contabilizou que 2.525 policiais militares foram afastados do trabalho por doenças mentais.

Foto: Arquivo/Agência Brasília

A corporação no DF, em nota, afirmou que oferece serviços 24 horas para policiais e familiares através do Departamento de Saúde e Assistência ao Pessoal (DSAP). Confira a lista abaixo no final do texto.

Suicídio no Brasil

 Somando-se com policiais civil, também em 2023, foram registrados 118 suicídios em todo o país.

“Os números em 2022 mostravam o que já observávamos nos anos anteriores: que policiais morriam
mais em confronto na folga, depois por suicídio e, por último, por confronto em serviço. Os números referentes a 2023 apontam, pela primeira vez desde que o FBSP passou a coletar dados sobre vitimização de policiais, o que mais matou policiais militares no ano passado foi o auto-extermínio. PMs morreram mais por suicídio do que por confronto na folga e por confronto em serviço”.

O crescimento de 26,2% nos casos de suicídio entre policiais civis e militares ativos mostra que os problemas emocionais e psicológicos enfrentados por esses profissionais são cada vez mais graves.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Impactos

A psicóloga Êdela Nicoletti, especialista em terapia cognitivo-comportamental e estresse pós-traumático, alerta que os policiais vivenciam traumas intensos e prolongados, o que frequentemente leva ao aumento da ansiedade, agressividade e até à depressão, mas o estigma dentro das corporações muitas vezes impede que busquem o tratamento necessário.

Apesar dos esforços para capacitar as forças de segurança, a realidade vivida pelos policiais brasileiros é marcada por riscos constantes e uma pressão emocional imensa, que afeta diretamente sua saúde mental.

A psicóloga Êdela Nicoletti explica que esses profissionais estão expostos a situações extremas que os tornam suscetíveis ao desenvolvimento de transtornos como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), ansiedade e depressão.

Foto: Licença Creative Commons

“Os policiais frequentemente passam por traumas intensos, que podem gerar agressividade e irritabilidade. Esses comportamentos são, muitas vezes, sintomas de transtornos psicológicos não diagnosticados, como a ansiedade e a depressão”.

 Além disso, o estigma dentro da corporação faz com que muitos evitem procurar ajuda, por temerem parecer frágeis ou incapazes de desempenhar suas funções.

“A cultura da força muitas vezes nega a vulnerabilidade e desvaloriza a busca por apoio mental”, explica.

A psicóloga também menciona a sobrecarga de trabalho como um fator de desgaste emocional, onde a carga horária extenuante e a pressão por resultados deixam o policial esgotado física e mentalmente. Muitos trabalham fora para complementar a renda, o que piora a situação, já que não conseguem descansar adequadamente.

Essa sobrecarga acaba levando a explosões de violência em situações de estresse, afetando não apenas os policiais, mas também a população que interage com eles.

O perigo da negligência com a saúde mental

Segundo Nicoletti, a falta de programas robustos de apoio psicológico é uma das principais falhas na proteção da sociedade e dos próprios policiais.

“No Brasil, os programas de prevenção e tratamento de saúde mental são extremamente limitados. Temos pouquíssimos profissionais especializados em trauma para atender essa população”, afirma.

Ela destaca que a ausência de treinamentos em regulação emocional faz com que muitos policiais não tenham as ferramentas necessárias para mediar crises de forma eficaz.

A falta de suporte adequado, combinada com a exposição prolongada ao estresse e ao perigo, pode levar ao uso desproporcional da força.

“Sem estratégias para lidar com o próprio estresse, muitos policiais recorrem à violência como primeira resposta em situações de conflito”, alerta a psicóloga.

A parceria do CICV com as polícias brasileiras

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha realiza treinamentos com o objetivo de instruir as forças policiais sobre a aplicação dos direitos humanos em seu cotidiano.

Edmar Martins, chefe do Programa com Forças Policiais e de Segurança da Delegação Regional do CICV, explica que o uso comedido e escalonado da força garante segurança jurídica para a atuação policial e respeito aos direitos das pessoas.

“Tratamos o que se deve fazer antes, durante e depois do uso da força. Temos um marco jurídico bem definido sobre como, quando e em quais circunstâncias a força pode ser utilizada”, afirma.

Esse treinamento se baseia nas diretrizes sobre o uso da força: legalidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência. A intenção é evitar o uso arbitrário ou excessivo de armas e garantir que o policial atue de maneira responsável em operações de aplicação da lei.

Martins destaca que o CICV orienta as forças de segurança para que analisem “por que a força foi utilizada, se foi legítima ou excessiva, e, mais importante, qual a circunstância que levou à sua utilização é fundamental.” A partir disso, poderão extrair conhecimento para avaliar suas ações.

O chefe do programa chama atenção para que, além do treinamento, é crucial que seja feita uma seleção adequada de policiais. 

“A qualidade do serviço depende de uma boa seleção. Se a pessoa não é adequada para a função, o treinamento não será suficiente”.

Apoio aos policiais no DF

Serviços de Apoio Psicológico e Social (CAPS)

• Atendimento 24h/7: Suporte presencial e telefônico para orientação e acompanhamento psicológico.

• Contato: (61) 99618-0241.

• Serviços:

Atendimento emergencial psiquiátrico.

Visitas domiciliares e hospitalares.

Assistência em casos de luto e crises emocionais.

• Rede suplementar: Psicólogos e psiquiatras disponíveis em clínicas credenciadas pela PMDF. Acesse portalsaudepmdf.pm.df.gov.br.

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Programa de Valorização da Vida (PVV)

• Funcionamento 24h/7: Coordenação pela Capelania da PMDF.

• Suporte emocional e espiritual: Aconselhamento, apoio psicológico e espiritual.

• Sentinela de Serviço: Policiais voluntários que identificam e encaminham colegas com necessidade de apoio emocional.

• Outros serviços:

Grupos de Alcoólicos Anônimos.

Aconselhamento conjugal.

Palestras sobre inteligência emocional e organização financeira.

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Rede de Clínicas Credenciadas

• Como acessar: Pelo portal portalsaudepmdf.pm.df.gov.br, na aba “Rede Credenciada.”

• Disponibilidade: 15 clínicas de psicologia e psiquiatria já credenciadas; 12 novas clínicas aguardando credenciamento.

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Centro de Capacitação Física da PMDF

• Orientações físicas e atividades direcionadas: Promoção da saúde corporal através de atividades físicas específicas.

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Contatos Importantes

• CAPS/SBES: (61) 99618-0241.

• Rede de Psicólogos e Psiquiatras: portalsaudepmdf.pm.df.gov.br.

• Serviço de Assistência Religiosa (Capelania): (61) 99618-0241.

Por Fernanda Ghazali

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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