Saúde bucal eficiente é medida de prevenção contra coronavírus, diz especialista

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Em meio à pandemia do coronavírus e o consequente isolamento social, é preciso atentar para os cuidados com saúde bucal. De acordo com recomendações do CRO-DF (Conselho Regional de Odontologia do Distrito Federal) e do Ministério da Saúde, os consultórios de odontologia no DF estão em funcionamento apenas para casos emergenciais, seguindo procedimentos de segurança para manter a integridade dos profissionais e dos pacientes. Enquanto isso, a população segue os cuidados com a higiene e saúde pessoal, e aguarda por mais decisões governamentais quanto ao isolamento social e o andamento do combate à Covid-19.  

De acordo com a cirurgiã dentista Edrielle Santana, uma das principais formas de transmissão do vírus é a via oral, o que envolve cuidados adequados com tudo que envolve a região da boca. Os procedimentos não envolvem a escovação. “Quando a gente está em casa, fica um pouco mais relaxado com a saúde bucal. Passamos a comer mais com espaços menores de tempo, e a saúde bucal fica prejudicada”, afirma. A especialista, em entrevista, alerta para cuidados importantes para a rotina de cuidados. Ela enfatiza que não há comprovação, no entanto, que cremes dentais ou enxaguantes bucais “matem” o vírus. Confira a entrevista abaixo:

De que forma a higiene bucal pode ajudar na prevenção ao coronavírus?

Edrielle Santana – Quando a gente está em casa fica um pouco mais relaxado com a saúde bucal, passamos a comer mais, com espaços menores de tempo, e acaba que a saúde bucal fica prejudicada. Então manter essa saúde bucal é importante não só em tempos de coronavírus, é importante manter a qualquer tempo. Mas com o coronavírus, a boca e a saliva, por exemplo, são um dos meios de contaminação que hoje nós temos do vírus, manter sua saúde bucal é ainda mais importante e todo o cuidado também, não só com a higiene bucal, mas com a higienização das escova, das mãos ao escovar os dentes e manter essa higienização padrão que a gente tem três vezes ao dia pelo menos.

Quais os principais cuidados que as pessoas podem ter e como podem botar isso em prática?

Edrielle Santana – A mão é um dos principais meios de contágio, então sempre higienizar as mãos antes de usar a escova e principalmente antes de usar o fio dental, já que tem o contato direto dos fios com os dedos. Então fazer essa lavagem das mãos antes e depois da escovação e do uso do fio dental é um dos pontos importantes, e também fazer a higienização do cabo da escova, pode passar álcool em gel no cabo das escovas, porque às vezes a gente esqueceu algum dia de higienizar as mãos antes de escovar, está com a mão suja e pegou na escova.

Então fazer essa higienização sempre do cabo da escova, e as cerdas das escovas também podem ser higienizadas,com enxaguantes bucais, com aquelas pastilhas já prontas que fazem higiene de prótese, e o modo mais simples e que todo mundo pode fazer em casa é com aquela solução de diluição de água sanitária e fazer ali a higienização das cerdas da escova. São modos de você ter uma prevenção e não propagar o vírus, tendo todos esses cuidados de higiene.

As pessoas que estão passando por qualquer problema bucal recentemente, o que elas podem fazer diante dessa situação?

Edrielle Santana – No meio desse caos, os dentistas estão unidos e ajudando a população, todos os atendimentos de urgência e emergência vamos tentar realizar. O paciente teve alguma dor, um sangramento ou algo que está incomodando muito, pode entrar em contato com as clínicas e com o dentista que eles vão sim atender. Eles estão aptos para atender esses pacientes usando todos os meios de barreira possíveis para que não haja nenhum risco para o paciente.

É recomendável que as pessoas não dividam a mesma pasta de dente com outros indivíduos da casa?

Edrielle Santana – A recomendação geral é que cada um tenha a sua escova. A pasta de dente o ideal é não passar a entrada onde sai a pasta de dente nas cerdas da escova, tirar a pasta pra fora e colocar nas cerdas sem que tenha aquele contato com a entrada. Lembrando sempre que basta a pasta de dente do tamanho de um grão de ervilha para que haja já a escovação correta dos dentes, não precisa mais do que isso. 

O uso de enxaguante bucal com ou sem álcool pode ajudar de alguma maneira na esterilização da boca?

Edrielle Santana – O uso de enxaguantes bucais não mata o coronavírus como saíram muitos noticiários sobre isso. Tem algumas soluções que ajudam a minimizar a quantidade de bactérias e de vírus que pode ter ali na boca, mas é mesmo para diminuir a carga viral. Isso é usado somente em consultório antes de algum procedimento que por exemplo vá produzir aerossol, é usado pelo dentista apenas antes do procedimento e não é recomendado usar fora do consultório. Os enxaguantes que são usados fora do consultório, é ideal que se use com recomendação do seu dentista, porque hoje tem muitos enxaguantes que são vendidos em farmácias e locais sem prescrição e que o paciente pode usar indiscriminadamente, podendo provocar diversos malefícios como perda do paladar, que é um dos mais graves. E podem ter vários outros danos que o paciente, às vezes por desinformação, não sabe que pode estar fazendo mal para si mesmo.

Existem cuidados ainda mais específicos nesse momento com quem usa algum tipo de aparelho bucal?

Edrielle Santana – Para quem usa aparelhos ortodônticos ou está em tratamento ortodôntico, a gente sabe que o acúmulo de placa de alimento é relativamente maior do que quem não usa, então é redobrar mesmo os cuidados com a higiene bucal, estar sempre fazendo o uso do passa fio, passando fio dental, fazendo as higienizações três vezes ao dia. Se tiver algum desconforto, às vezes algum fio solta por não estar tendo contato com o dentista algo machucando, não hesitem em ligar para o dentista, para o ortodontista, para que haja um atendimento de urgência, de cortar algum fio, de tirar esse desconforto do paciente.

Um dos possíveis sintomas do vírus é a perda de paladar. Existe alguma falta de cuidado que possa levar a essa mesma sensação e confundir o paciente?

Edrielle Santana – O uso de enxaguante é um dos casos. Às vezes o paciente está usando faz muito tempo enxaguantes, por exemplo, que possuem clorexidina, que se usar por muito tempo pode provocar essa perda de paladar. Ou caso não seja feita também a higienização da língua, porque a gente escova toda a boca e passa o fio dental e muitas pessoas esquecem de escovar a língua. Então esse acúmulo constante de alimento na língua e não higienização pode sim, em alguns casos, provocar ali uma perda de paladar. Antes de ficar preocupado, de achar que está tendo algum sintoma de coronavírus, é importante observar se você não está causando, ou se você não tem algum hábito que pode estar provocando essa perda de paladar.

Os Comitês Regionais de Odontologia, assim como o Ministério da Saúde, recomendam que sejam feitos atendimentos apenas em casos de urgência. Quais seriam esses casos? E em consultas emergenciais, quais os cuidados a se tomar?

Edrielle Santana – São vários os atendimentos que podem ser encaixados como urgência e emergência. Os atendimentos de emergência são aqueles que o paciente tem risco de morte e que são mais complicados. Os atendimentos de urgência são, vou citar alguns mas não todos: cortar um fio ortodôntico que esteja lacerando o paciente, esteja machucando, pode ser também uma dor de dente, um canal que o paciente vai precisar fazer, alguma coroa, alguma prótese que soltou e ele precisa colar aquele dente. Mas os mais comuns são as dores mais intensas, algum inchaço que tenha na boca devido a canal, ou um pós operatório que possa vir a ter alguma complicação.

Então, sempre que o paciente tiver algum desses desconfortos ou se ele tiver alguma dúvida sobre o que ele ta sentindo se é ou não uma urgência, é bom ligar para a clínica, ligar pro dentista, e conversar para saber se o que ele tem é um procedimento que possa ir até a clínica ou é um procedimento que não precisa se preocupar. Mas caso for um procedimento que ele precise ir até a clínica, pode ficar tranquilo que os dentistas estão muito bem instruídos. A gente já tem todo o cuidado com os EPIs (equipamento de proteção individual) e com a higienização, que são redobrados neste período de pandemia.

O Ministério da Saúde, a Anvisa, os Conselhos Regionais e Federais também disponibilizaram várias cartilhas, vários informativos também pra ajudar nesse controle, diversas medidas que estão sendo feitas para que o paciente possa ir tranquilo até o atendimento odontológico e que não tenha nenhum risco nem para ele e nem para o dentista. O paciente também tem que ter a consciência de que ele está saindo de casa e indo para o consultório para ter contato com profissionais da saúde, que são profissionais que estão no enfrentamento do coronavírus, que tem contato com os pacientes e tudo mais, então eles precisam ter alguns cuidado.

Lavar sempre as mãos chegando na clínica, higienizar bem com álcool, não cumprimentar nem os colaboradores da clínica, manter a distância de um metro e meio dos colaboradores, se tiver com algum sintoma típico do coronavírus, converse com o dentista para ver a possibilidade de adiar esse atendimento, de às vezes uma prescrição medicamentosa ou algo do tipo para que ele espere esses sintomas de vírus passarem. Então são esses cuidados simples para que cada um faça a sua parte e a propagação não tenha grandes proporções.

Alguns sabonetes são eficazes contra o vírus, ajudando a desinfetar as mãos. Existe algum tipo de creme dental que tenha o mesmo efeito para a boca?

Edrielle Santana – Não, não tem nada comprovado que algum creme dental possa ‘matar’ o vírus. Então os cuidados são os mesmos de sempre, escovar os dentes, passar o fio dental e a troca da escova a cada três meses é importante, ou quando as cerdas se danificarem. Mas se o paciente teve alguma virose ou até mesmo com o vírus, qualquer tipo de vírus, assim que terminar os sintomas é indicada a troca da escova, já que a escova tem contato com a boca e com os vírus e bactérias que também estão presentes. Então o ideal é trocar a escova a cada 3 meses e após uma virose também trocar a escova.

Por Arthur Ribeiro e Bernardo Guerra

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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