Solidariedade: entidade no Recanto das Emas acolhe 120 pessoas com HIV e ainda luta contra estigmas

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Rúbia Ferreira, de 31 anos, foi acolhida pela Fraternidade Assistencial Lucas Evangelista (Fale), depois do falecimento da mãe. Ela foi contaminada pelo vírus HIV durante o parto. A presidente da instituição, Jussara Santos, assumiu os cuidados de Rúbia quando tinha apenas 2 meses de vida. Mesmo após se casar e se tornar mãe, ela ainda mora nas dependências da Fraternidade.

“Eu fiquei um tempo na outra instituição, em Uberlândia (a outra unidade da Fale), e depois vim morar aqui no DF. Quando eu casei, que saí da casa da Jussara, fiquei quase 5 anos fora da Fale, mas retornei e estou aqui até hoje, e não pretendo sair”, afirma.

O dia 1º de dezembro é especialmente importante para a instituição por ser um dia de conscientização sobre o vírus. A data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1988 tem a proposta de orientar e conscientizar sobre a transmissão. O Dia Mundial de Luta Contra a Aids foi celebrado nesta segunda-feira (1º), mas as instituições entendem que o mês de dezembro inteiro é importante nessa luta. Mesmo depois de décadas da descoberta da doença, os portadores e seus descendentes ainda sofrem de estigmas, vulnerabilidade e, muitas vezes, carecem de apoio e cuidados.

Considerando essa necessidade, portadores ou filhos de portadores precisam buscar auxílio voluntário em instituições que forneçam serviços de acolhimento, atendimento psicológico e suporte médico.

Localizada no Recanto das Emas (DF), a Fale acolhe, atualmente, cerca de 120 pessoas, distribuídas entre 47 casas construídas no próprio terreno da instituição. O trabalho da entidade sempre foi voltado para o acolhimento de portadores do vírus, mas também atende pessoas com outras vulnerabilidades.

“Aqui tem gente que não tem HIV, mas está aqui por não ter onde ficar, muitos com filhos também. Por isso a ‘tia’ Jussara deixa morar aqui”, explica Rúbia.

Apesar da importância vital desse amparo, a sobrevivência da instituição está integralmente ligada a doações. Todas as despesas, como compra de alimentos, manutenção dos espaços e construção de moradias, vêm exclusivamente de doações de pessoas físicas, voluntários e parceiros. O único suporte do governo se dá com os medicamentos antirretrovirais.

Reconhecimento

“É muito importante a compreensão de que a epidemia da aids é um fenômeno político e social, que possuí múltiplas dimensões e que exige a pactuação de uma agenda pública unificada, ancorada no enfrentamento desses determinantes sociais e que estimule a participação civil na resposta à doença”, disse a representante da Articulação Nacional de Luta contra a AIDS (ANAIDS), Carla Almeida, na Sessão Solene de homenagem ao Dezembro Vermelho, na Câmara dos Deputados.

Em 2024, foram registradas mais de 40 milhões de pessoas no mundo vivendo com HIV. É o que aponta o último boletim epidemiológico divulgado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS). Já no Brasil, o Ministério da Saúde contabilizou 541,7 mil casos da doença entre 2007 e junho de 2024. Só em 2023, foram notificados mais de 46,4 mil casos de infecção pelo vírus no país.

Esses números, segundo o mestre em ciências médicas, Lucas Albanaz, estão relacionados à baixa percepção de risco das pessoas atualmente. “Muita gente jovem nunca viu alguém adoecer gravemente por AIDS e passa a encarar o HIV como ‘algo tratável, não tão grave’, o que, na prática, reduz o uso consistente de preservativo e a procura por testagem”, explica o médico.

Além disso, outros fatores podem ser agravantes para a disseminação do vírus, como, por exemplo, a condição social em que um grupo está inserido. “Prevenção e tratamento não chegam a todos de forma igual. No papel, temos um arsenal poderoso: camisinha, PEP, PrEP, diagnóstico rápido, tratamento que zera carga viral. Na realidade, esses recursos se concentram em grandes centros urbanos, em quem tem mais escolaridade, renda e menos barreiras sociais”, acrescenta Lucas.

Os estigmas, ainda, aparecem em diferentes camadas: preconceito contra pessoas vivendo com HIV, contra sexualidades e identidades de gênero dissidentes, contra usuários de drogas e contra trabalhadoras do sexo.

As consequências dessas práticas, de acordo com o médico, podem ser diversas, como: “a pessoa evita fazer o teste por medo de ser vista, julgada ou ter seu resultado revelado; quem recebe o diagnóstico pode negar o problema, evitar contar a parceiros, não iniciar ou não aderir ao tratamento por vergonha; e profissionais de saúde com atitudes discriminatórias afastam justamente os grupos mais vulneráveis” pontua.

O combate ao estigma está diretamente ligado ao conhecimento da população acerca do tema. A comunicação clara e o sigilo nos serviços de saúde são atitudes fundamentais para enfrentar o preconceito.

Por: Beatriz Vasconcelos, Bruna Teixeira, Carol Chendes, Giovanna Torres e Letícia Corrêa
Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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