Venda de remédios sem receita é como crime de tráfico de drogas, mas prática ocorre até em aplicativos de mensagens

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Créditos: Health Care

A venda de medicamentos sem receita, embora tenha se popularizado, é uma prática que pode causar riscos e levar à dependência. Especialistas alertam que embora alguns remédios tenham o potencial de alívio rápido dos sintomas, o efeito de alguns é capaz de disfarçar algumas doenças que ainda não foram diagnosticadas no paciente.

Uma recente pesquisa divulgada pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), apontou uma alta no número de pessoas que se automedicam. O levantamento mostra que 9 entre 10 brasileiros têm esse comportamento. Profissionais da área da saúde atribuem essa prática a ansiedade do paciente em tentar amenizar uma dor.

Geralmente a compra de medicamentos sem prescrição ocorre pela indicação de um conhecido. Para o farmacêutico oncologista Felipe Alves, a automedicação é um risco iminente, afinal, indivíduos as pessoas têm organismos diferentes com necessidades distintas. “Com a automedicação, o paciente trata os sintomas, não a doença”, afirmou.  O farmacêutico acrescenta que a negligência a problemas de saúde considerados banais acaba influenciando na automedicação.  

Para o consumidor, embora não existam consequências legais diretas, o impacto na saúde pode ser grave e resultar em dependência. Ele explica que a automedicação às vezes esconde doenças graves e crônicas. “A gente tem isso com os analgésicos, que vêm mascarando a dor, e vai piorando um pouco mais quando a gente vai para medicamentos para uso psiquiátrico. E quando vamos para os antibióticos, o corpo vai tendo mais resistência”, afirma. Ele também alerta que o tratamento feito com doses inadequadas e sem o devido acompanhamento aumenta o risco de agravar a condição clínica dos pacientes.

Venda de medicamentos em grupos de aplicativo

Em aplicativos de mensagens, como no Telegram, há grupos criados para a venda de medicamentos sem receita. Em um deles, há mais de 600 pessoas que trocam mensagens sobre o comércio de remédios, inclusive tarja preta, como zolpidem e ritalina, usados para tratar insônia e déficit de atenção, respectivamente.  

Uma universitária, de 19 anos, que preferiu não ser identificada, admitiu recorrer a medicamentos sem prescrição médica. “Eu conheço os efeitos de alguns remédios usados para fins recreativos e me interessei em comprá-los”, disse. A estudante também revelou que sempre pesquisa a bula on-line para conhecer possíveis efeitos colaterais antes de comprar qualquer medicamento.”Até o momento não tive experiências negativas, pois faço uso de forma segura”, afirmou. Embora considere a prática de automedicação incomum, ela reconhece que pessoas conhecidas já se automedicaram pelo menos uma vez. 

Consequências da automedicação

A venda de medicamentos sem receita no Brasil é crime, segundo o artigo 273, § 1º-B, do Código Penal Brasileiro. Comercializar medicamentos controlados sem receita médica se equipara ao tráfico de drogas, com penas que podem chegar até 15 anos de prisão. O farmacêutico Rogério Hoefler ressalta que o uso de qualquer medicamento deveria ser feito após uma consulta com um profissional devidamente habilitado. Para ele, mesmo os medicamentos isentos de prescrição médica não deveriam ser utilizados sem a orientação prévia de um farmacêutico.

Os motivos que levam a automedicação são diversos e vão desde a indicação de pessoas conhecidas até a falta de tempo para procurar um médico. A repetição de enfermidades, a busca por alívio de sintomas e a demora no atendimento em unidades de saúde também são fatores que impulsionam essa prática. A crise econômica ainda contribui, levando os consumidores a preferirem soluções mais baratas e rápidas. Para o farmacêutico Rogério, a automedicação pode ser vista como um autocuidado mal orientado. “As pessoas buscam alívio imediato e assumem riscos que não conhecem”, explica. 

Ele ainda alerta que essa prática não é isenta de riscos. E complementa: “O fácil acesso aos medicamentos cria uma falsa sensação de segurança e faz com que as pessoas assumam riscos sem conhecimento adequado.”

Por Beatriz Vasconcelos, Carolina Chenders, Giovanna Torres, Letícia Corrêa e Marcelo Thompson

Supervisão de Isa Stacciarini

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