Pelo menos 137 indígenas foram assassinados no ano passado, segundo o relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, divulgado no dia 15 de setembro. Todos os dados são resultados da reunião de informações fornecidas pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e pelo Distrito Sanitário Especial Indígena do Mato Grosso do Sul (Dsei-MS), além da própria pesquisa do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que organizou o relatório. Esse número, conforme explicam os organizadores da pesquisa, não permite conclusões definitivas porque não conseguiram informações mais completas das ocorrências.
A quantidade de mortos aponta, porém, uma média semelhante ao do ano anterior, quando houve registro de 138 assassinatos, e confirma a escalada da violência contra indígenas. Para se ter uma ideia, em 2005 (uma década antes), o número de mortes foi de 58. Em 2004, foram 37. Os dados coletados foram divulgados servem para mostrar as condições vividas pela população indígena no país e tentar trazer à tona os crimes cometidos a comunidade, como esclarece a antropóloga Lúcia Helena Rangel. “É muito importante para o país e o próprio indígena saber o que está acontecendo, contra os diversos povos, no Brasil”.
Segundo a cientista social, as agressões aos povos indígenas ocorrem, em grande parte, por conflitos que envolvem terras e são efetuados com um “grau elevado de perversidade”. “Se criou uma maneira de se lidar com a população indígena, que é na força bruta”, lamenta.
Para o procurador federal Luciano Mariz, os povos indígena estão submetidos a condições sub-humanas, não só financeiramente, mas também em relação a ameaças e agressões constantes. Porém, o procurador explica que há uma atuação integrada para combater a prática. “Todas as mortes poderiam ser evitadas, todas elas desnecessárias. Já há mortes demais e é preciso evitar que essas violências voltem a acontecer”.
Genocídio
Elson Canteiro, indígena da tribo Guarani Kaiowá estava presente na divulgação dos dados em Brasília e afirma que o seu clã vive momentos tristes. Ele explica que ataques de paramilitares e fazendeiros são frequentes no Mato Grosso do Sul, mas conta que irá lutar pelo seu povo. “O nosso futuro ficou para trás. Já tiraram a nossa riqueza, nossa floresta, nosso rio”. Para Canteiro, até o momento nenhum fazendeiro foi morto, mas os índios estão sofrendo um “genocídio”. “A soja, o milho, a cana-de-açúcar tem sangue dos índios”, afirma.
Com números mais específicos, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) registrou no ano passado um total de 52 casos em que houve 54 vítimas de assassinatos nos seguintes estados:
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Por Lucas Valença