Brasilienses pelo mundo: desafios e saudades de quem busca novas oportunidades

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Nascida na Asa Norte, Fabiana Vieira dos Santos, 40 anos, é uma brasiliense que mora nos Estados Unidos e está acostumada à saudade. Fabiana,  trabalha de diarista para pagar suas contas, onde é chamada de ‘’House Keeping’’ e faz um extra como personal trainer e nutricionista em Long Branch, cidade de praia que fica apenas a uma hora de Nova Iorque, ela está há 10 anos no EUA,  explica  que sua mudança para os EUA não foi um plano premeditado, mas sim uma oportunidade que surgiu quando ela não conseguia encontrar trabalho no Brasil. ‘’Eu tinha saído de um cargo comissionado no governo estadual e não consegui um trabalho por três  meses. Um amigo da família sugeriu que eu tentasse um visto, e ele me ajudaria quando eu chegasse aqui’’, explica Fabiana. Ela acabou se mudando diretamente de Brasília para Orlando.

Adpatação nos EUA

O processo de adaptação de Fabiana foi facilitado por ela ter começado a trabalhar com uma brasileira logo após sua chegada. “Trabalhei como ajudante de limpeza para uma brasileira. Então não havia muitas diferenças do que eu já fazia no Brasil”, comenta. A comunidade brasileira nos Estados Unidos foi crucial para seu acolhimento, criando um ambiente familiar e acolhedor.

Apesar de ter sido uma adaptação tranquila em muitos aspectos, Fabiana menciona o clima como o maior desafio. “O frio aqui, que varia de 1°a 5°, com sensação de -1° e -10° é intenso e os meses de inverno são longos, algo que ainda me afeta até hoje”, admite. Além disso, o filho de 24 anos enfrentou dificuldades no início, especialmente com o idioma, mas conseguiu se ajustar rapidamente à escola, onde também havia outros alunos brasileiros. “Ele sentiu falta dos amigos no início, mas se adaptou bem”, conta. Quando perguntada sobre xenofobia, Fabiana afirmou nunca ter enfrentado preconceito diretamente. “Graças a Deus, nunca passamos por isso”, afirma ela.

Fabiana não se inseriu diretamente no mercado de trabalho americano, porém disse que chegou numa quarta-feira e na semana seguinte estava trabalhando como ajudante de limpeza, mas conseguiu construir uma clientela fixa ao longo dos anos como autônoma. “Depois de três anos, comprei meus primeiros clientes e hoje trabalho para eles há muito tempo”, diz. Ela comenta que, embora tenha sido relativamente fácil conseguir trabalho quando chegou, a situação mudou nos últimos anos, com mais pessoas chegando e menos empregos disponíveis. 

Sobre as conquistas e estilo de vida nos EUA, Fabiana expressa gratidão pelas oportunidades que o país lhe proporcionou. ‘’ Hoje eu moro a dois minutos da praia, tenho meu carro, meus trabalhos, minhas coisas. Aqui, conseguimos viver coisas que, no Brasil, seriam muito mais difíceis de conquistar’’, reflete.

Saudade e planos futuros

Quanto à saudade do Brasil, Fabiana acredita que é algo com o qual aprendeu a lidar. “Eu penso que quando fazemos escolhas, temos que aprender a conviver com suas consequências sem culpas”, reflete. Ela menciona que a tecnologia ajuda muito a manter o contato com a família e amigos, o que diminui a sensação de isolamento.

Antes de se mudar, o filho de Fabiana chegou a pedir à avó para fazer um último frango com batata e pamonha, acreditando que não encontraria esses alimentos nos EUA. Para sua surpresa, ao chegar a casa de amigos brasileiros que a receberam, passaram o fim de semana todo fazendo pamonha ‘’Aqui tem muitos restaurantes, mercados e lojas brasileiras, então não sentimos falta de comida, a não ser que por algo muito específico’’, comenta Fabiana, que também experimentou costumes mineiros pela primeira vez nos EUA.

Em relação ao futuro, Fabiana planeja continuar trabalhando nos EUA , mas considera a possibilidade de voltar ao Brasil quando decidir se aposentar. “Penso em voltar para visitar minha família e, quando não for mais trabalhar, aí sim voltar e descansar”, conclui com um sorriso.

Novos horizontes

Vinícius Rocha, de 33 anos, embarcou em um intercâmbio com o desejo de imergir em uma nova cultura, praticar uma língua diferente e, acima de tudo, transformar sua visão de mundo. “Eu queria mais do que aprender inglês; queria viver uma realidade distante da minha”, ele explica. Mas o que parecia uma aventura rapidamente se transformou em um desafio inesperado. “Viver em outro país, está longe de tudo o que me era familiar… é como se eu estivesse constantemente em um teste”, confessa.

Com passagens pela Escócia, Itália e Portugal, foi em solo português que Vinícius sentiu seu primeiro choque cultural. A chegada a um país diferente, sem conhecer ninguém e imerso em um sistema acadêmico exigente, trouxe a ele a experiência de estar desbravando um novo mundo. Portugal foi o ‘’batismo’’ que lhe ensinou que, no intercâmbio , a vida cotidiana se transforma em lições diárias. ‘’Cada conversa, cada troca com colegas de outros países ampliou minha visão e me fez questionar meus próprios limites. A adaptação acadêmica foi intensa, um convite constante para eu provar que conseguiria me adaptar e superar barreiras’’, relembra.

Perrengues na estrada

Assim como muitos que se aventuram pela Europa, Vinícius passou por momentos em que tudo o que parecia sólido desabou em segundos. Uma noite na Alemanha, enquanto aguardava um ônibus marcado para às 23h50, ele viu a porta se fechar e o veículo partir mais cedo do que o previsto, deixando-o completamente só na estação. O coração disparou, e ele percebeu que, sem outra alternativa, teria que dormir no aeroporto ou se virar para encontrar uma rota alternativa no meio da noite. “Foi como um soco no estômago,” ele diz. “Não tinha onde ir, ninguém para ligar. Foi a primeira vez que entendi o que era realmente estar sozinho em outro continente.”

E como se não bastasse, em outro episódio, seu cartão bancário travou na Alemanha, e Vinícius viu-se de repente com apenas 5 euros para passar o dia. A cidade, antes convidativa, tornou-se um labirinto de incertezas. “Aquilo virou uma batalha interna; cada moeda que eu usava era uma decisão vital. Foi o dia mais longo da minha vida,” relembra. Cada passo, cada olhar ao redor, ele pesava suas escolhas e, sem outra opção, descobriu que, por mais assustador que fosse, ele era capaz de sobreviver.

Conselho aos jovens sonhadores

Para aqueles que desejam se aventurar em uma nova cultura e desafiar suas próprias fronteiras, Vinícius tem uma mensagem: “Só vai. Enquanto somos jovens, temos uma grande possibilidade de aprendizado e flexibilidade para lidar com as situações mais desafiadoras. Um intercâmbio, onde você realmente se relaciona com pessoas diferentes do Brasil, vai transformar você em vários aspectos, para o resto da vida.” Sua recomendação é quase um grito de alerta: um intercâmbio não é apenas uma experiência, é uma oportunidade para redescobrir o mundo e, sobretudo, a si mesmo.

Sonho Acadêmico

Assim como Fabiana e Vinícius Rocha,, Vinícius Andrade, 21, é  um estudante de Direito também deixou Brasília em busca de novos horizontes..‘’O que me motivou a vir para Coimbra, Portugal foi a qualidade do ensino superior na minha área de formação’’, ele explica. A escolha de Portugal, e particularmente de Coimbra, vai muito além de uma simples mudança de cenário. ‘’O processo de preparação foi longo, financeiro, emocional e intelectual’’, diz ele. A busca por crescimento intelectual e pessoal estava no topo de suas expectativas, mas tem o outro lado, o de apreensões, principalmente sobre como ele seria integrado em outro país.

‘’O ensino acadêmico aqui, em Direito, é da melhor qualidade’’, comentou também sobre a seriedade com que os estudantes levam os estudos, pois a pressão acadêmica é alta e o nível de exigência para aprovação é ‘’puxada’’ como ele citou, exigindo comprometimento máximo durante o semestre. Isso mostrou uma grande diferença cultural com o Brasil, pois os estudantes portugueses focam tanto nos estudos que acabam não tendo a necessidade de estagiar ou trabalhar durante a faculdade, ao ponto de preferirem estagiar durante as férias da faculdade.

Vinicius, que cursou um semestre de Direito no Brasil antes de se mudar, percebeu essas diferenças logo de cara. ‘’As faculdades de Direito em Brasília são muito práticas e estimulam a vivência profissional desde o início, o que é essencial no contexto brasileiro. Em Portugal, o foco é mais teórico, o que também tem seus méritos’’, comentou.

Falta de casa

Quanto à adaptação pessoal, ele se surpreendeu. ‘’Não senti nenhuma dificuldade em particular por ser brasileiro’’, afirma. Apesar de existir algumas diferenças linguísticas, como o sotaque e certas palavras, a língua em comum ajuda bastante na convivência. Ele explica que os portugueses são receptivos mas ‘’são reservados na sua esfera mais íntima’’. E ressaltou a presença da comunidade brasileira em Coimbra, que lhe trouxe a sensação de acolhimento

Embora tenha se adaptado bem a Coimbra, Vinícius admite que a saudade de casa e da rotina em Brasília, especificamente na Asa Sul. “Minha vida em Brasília era muito ativa. Eu aproveitava bastante o tempo com a família e amigos, e jogava basquete com frequência”, conta. O esporte fazia parte da sua rotina, mas agora, com a intensidade dos estudos, ficou mais difícil manter esse hobby. “Aqui, acabo não tendo tanto tempo para atividades como jogar basquete”, lamenta.

Além do basquete, Vinícius sente falta dos passeios nos fins de semana. “Sinto falta dos fins de semana no Parque da Cidade, que era o meu refúgio”, relembra. Ele se recorda que de vez em quando ia no Pontão do Lago Sul para apreciar o fim de tarde. “Aqui em Coimbra, a rotina é diferente, e não existem tantos espaços ao ar livre como em Brasília”, reflete.

Para o psicólogo Rafael Teixeira, especialista em migração e adaptação cultural, a falta de hábitos e hobbies do país de origem pode impactar o bem-estar emocional dos migrantes. “Essas atividades que conectam o indivíduo com seu ambiente anterior são importantes para manter um equilíbrio emocional”, afirma. Segundo Rafael, é importante encontrar novas formas de lazer no país de destino ou adaptar as atividades antigas ao novo contexto, ajudando a lidar com o impacto da saudade.

Desafios migratórios

Olhando pelo lado acadêmico, Vinícius encontrou em Coimbra, um ambiente desafiador. ‘’Aqui, a seriedade dos estudos é diferente’’, destaca. As tradições acadêmicas são seguidas à risca, com cerimônias formais, trajes académicos e um respeito profundo pelos professores. ‘’Para estudantes que vieram de fora , essas formalidades podem ser intimidadoras inicialmente, especialmente para quem vem de um sistema com outra dinâmica’’, explica ele. Os métodos de avaliação também representam um desafio diferente do que ele estava acostumado.

A professora Ana Claúdia Silva, especialista em educação internacional, disse que essa diferença no rigor acadêmico  é comum entre universidades europeias e brasileiras. ‘’Em Portugal, os estudantes estão acostumados a uma carga intensa de leitura e de preparação teórica, enquanto no Brasil há uma mistura maior entre teórica e prática’’, explica. A especialista vê isso uma oportunidade para os estudantes brasileiros se prepararem para mercados de trabalho mais competitivos 

Choque Cultural

Vinicíus está em Coimbra há mais de um ano e já começa a refletir sobre seus planos futuros ‘’A vida na Europa oferece uma qualidade de vida excelente, com segurança e muitas oportunidades culturais’’, conta ele. Porém, o dilema de continuar sua carreira em Portugal ou voltar para o Brasil é algo que ele considera com frequência. ‘’Ainda quero aprender muito aqui, mas também quero aplicar no Brasil tudo que aprendi’’, confessou.

Segundo o economista Marcos Vieira, especialista em mobilidade internacional, esse dilema é comum entre os estudantes brasileiros no exterior. ‘’Portugal oferece muitas oportunidades, mas o Brasil ainda tem um mercado em expansão para quem retorna com uma formação internacional’’, explica. Para Vinícius, o futuro é incerto, mas suas experiências em Coimbra certamente terão peso nas decisões que ele tomará, seja em Portugal ou de volta a Brasília.

Hobbies e saudades

Já Carlos Miguel Asensi, sociólogo de Manaus, também buscou na Europa um novo horizonte para seus estudos. Carlos optou pela Espanha, onde atualmente cursa um mestrado em Sociologia com foco em Estudos Migratórios na cidade de Coruña. Diferentemente de Vinícius, a escolha de Carlos foi fortemente influenciada por sua experiência profissional anterior no Brasil. “A Espanha se encaixava melhor nos desafios relacionados ao meu background acadêmico e profissional”, explica ele, que trabalhava na “Operação Acolhida”, um projeto voltado para a recepção de migrantes venezuelanos em Roraima.

A mudança para Coruña trouxe a oportunidade de Carlos aprofundar seus estudos em temas como políticas sociais e movimentos migratórios, além de trabalhar diretamente com uma população significativa de migrantes venezuelanos na Galícia, uma região espanhola que abriga uma grande comunidade dessa nacionalidade. No entanto, Carlos percebeu que a abordagem acadêmica na Espanha era diferente da que vivenciou no Brasil. “O mestrado aqui tem um foco mais prático, voltado para a inserção no mercado de trabalho, enquanto no Brasil o incentivo ao pensamento crítico é mais forte”, avalia.

Vida em Coruña

Embora a língua não tenha sido um obstáculo, Carlos já falava espanhol devido ao seu trabalho na fronteira com a Venezuela , a adaptação cultural trouxe desafios. “Acredito que a cultura espanhola é muito adaptável para brasileiros, mas o maior choque foi perceber o pensamento colonizador estrutural em relação aos latino-americanos”, comenta. Esse sentimento, segundo ele, é difícil de ignorar, especialmente para quem estuda Ciências Humanas.

Apesar disso, Carlos se adapta bem ao dia a dia em Coruña. Como um amante da gastronomia e da história, ele aproveita as oportunidades de explorar a cultura espanhola. “Eu sempre gostei de conhecer lugares históricos, experimentar novos pontos gastronômicos e contemplar a natureza, e isso a Espanha oferece de forma acessível”, conta. A convivência com colegas de diversas partes do mundo também tem enriquecido sua experiência.

Saudade e Manaus

Carlos sente falta do caráter espontâneo das relações dos brasileiros. “Além da comida e da nossa felicidade marcante, sinto falta da espontaneidade na vida social”, reflete. Em Manaus, ele passava o tempo explorando a cultura local, conhecendo novos lugares e apreciando a natureza amazônica, atividades que ele tenta manter na Espanha, mas reconhece que o estilo de vida é diferente. “Aqui, tudo é mais planejado e menos espontâneo”, compara.E não podia faltar, ele terminou dizendo que adorava ‘’jogar conversa fora’’ com os amigos em bares.

Quando questionado sobre seus planos futuros, Carlos reflete sobre o que virá após o término do mestrado: “Eu tenho planos de continuar na Espanha por um tempo, a fim de ter uma experiência profissional na minha área no sistema espanhol. Além disso, estou aberto a outras oportunidades em outros países, antes de voltar ao Brasil e poder aplicar todo o conhecimento e experiência que colhi na minha trajetória.”

Brasileira na Bélgica

Valkyria Rattmann, de 24 anos, é uma brasileira que trocou Curitiba por Hasselt, na Bélgica, para cursar um mestrado em Migrações e Estudos Étnicos. A mudança trouxe consigo não apenas novos desafios acadêmicos e culturais, mas também um sentimento constante de saudade de casa. A seguir, ela compartilha suas motivações, os desafios enfrentados e como tem lidado com essa transição.

Escolha por Hasselt

A motivação para escolher a Bélgica, mais especificamente Hasselt, veio de uma experiência anterior. “Através da Universidade Federal do Paraná, tive a chance de passar 6 meses em intercâmbio na Universidade de Hasselt“, conta Valkyria. Essa vivência foi determinante. Quando se formou, ela já sabia que queria voltar à Bélgica e decidiu procurar por um programa de mestrado que alinhasse com seus interesses em ciências sociais e relações internacionais.

O curso de Migrações e Estudos Étnicos na Universidade de Liège parecia perfeito, uma vez que abrangeria temas de grande interesse para Valkyria, como o fenômeno transnacional das migrações. Além disso, a tradição da Bélgica e da Europa nesse campo de estudo pesou em sua decisão: “A migração é um fenômeno humano complexo e transnacional”, observa ela, enfatizando que o contexto europeu é ideal para aprofundar esses estudos.

Desafios e Culturas

A mudança de Curitiba para Hasselt foi um processo longo e burocrático. Valkyria cita que sua maior preocupação foi o visto: “São muitos requisitos e etapas, inclusive exames de saúde. É uma despesa alta e bem burocrática.” Porém, graças à sua experiência prévia na cidade, ela já tinha uma rede de apoio, o que facilitou a adaptação inicial.

No entanto, a saudade da família e do Brasil sempre esteve presente, assim como o choque com a cultura belga, que ela descreve como “mais reservada”. “Apesar de Curitiba ser conhecida por ter pessoas mais fechadas, a Bélgica é muito mais ‘profissional’ nisso”, brinca Valkyria, referindo-se à dificuldade de fazer amigos nativos. Ela explica que os belgas tendem a manter suas amizades de infância e são mais resistentes a criar novos laços.

 Finanças e hábitos

Embora Valkyria tenha se preparado para o estilo de vida mais reservado dos belgas, outros aspectos culturais a surpreenderam, principalmente em relação ao dinheiro. “Eles têm uma boa condição de vida, mas não investem em experiências ou autocuidado”, comentou. Ela dá o exemplo de uma amiga que a questionou por escolher comprar Nutella em vez de uma marca mais barata. “No Brasil, somos mais generosos com nossos pequenos prazeres”, diz, destacando que esse tipo de comportamento é frequente.

Outra dificuldade encontrada foi a questão do idioma. A Bélgica tem três línguas oficiais: francês, holandês (na forma flamenga) e alemão. Embora Valkyria tenha se comunicado bem em francês desde sua adolescência, o holandês tem sido um desafio. Ela estuda a língua com aulas oferecidas pelo governo, mas a metodologia de ensino não a agrada muito: “As aulas são baseadas na repetição do que o professor fala, o que não gostei muito.”

Qualidade do Ensino

Comparando a educação entre o Brasil e a Bélgica, Valkyria vê mais semelhanças do que diferenças em termos de qualidade. “No Brasil, tive professores geniais e uma educação excelente”, elogia. Segundo ela, o maior diferencial belga está na internacionalização do ensino, algo que ainda precisa ser mais desenvolvido nas universidades brasileiras. Ela também aponta a maior proximidade entre professores e alunos no Brasil: “Na Bélgica, essa proximidade só se desenvolve após um longo período de convivência.”

Rotina em Hasselt

Hasselt, com seus 80 mil habitantes, oferece uma vida tranquila, mas limitada em termos de entretenimento. “Me sinto em um vilarejo”, comenta Valkyria, comparando a cidade à agitação de Curitiba. A falta de eventos culturais e opções de lazer é um ponto que ela lamenta. “Sinto falta dos restaurantes, do comércio aberto aos domingos e da programação cultural de Curitiba”, confessa. Ela também menciona as feiras de rua, especialmente a Feira do Largo da Ordem, algo que não encontra com a mesma animação na Bélgica.

Saudade

A saudade da família é o que mais pesa para Valkyria. “Falamos diariamente por WhatsApp e, quando posso, vou ao Brasil nas férias para ver todo mundo”, conta. O mesmo vale para os amigos, com quem mantém contato on-line e encontra sempre que visita Curitiba. Ela sente falta de “comer pastel e acarajé”, dois exemplos das comidas que mais a fazem lembrar do Brasil.

BRASIL OU BÉLGICA?

Valkyria está aberta a várias possibilidades quando pensa no futuro. Embora não descarte a ideia de voltar ao Brasil, ela também não tem nada contra continuar morando na Bélgica. “Se eu pudesse escolher, moraria nos dois países, um em cada semestre”, brinca, destacando que cada lugar tem suas vantagens e que ela gostaria de aproveitar o melhor dos dois mundos.

Crescimento e destinos

Com o passar dos anos, o número de estudantes brasileiros que optaram por fazer intercâmbio cresceu de forma significativa, revelando um movimento que atravessa barreiras. Em 2022, foram registrados 455.480 brasileiros realizando intercâmbio, um aumento expressivo de 18% em relação a 2019, último ano antes da pandemia. Esse dado ressalta como o desejo de viver experiências internacionais continua forte, mesmo diante das adversidades recentes.

Entre os destinos mais procurados pelos brasileiros, o Canadá ocupa o topo da lista há 22 anos consecutivos, sendo a escolha preferida graças a qualidade de vida e a excelência no ensino. Outros países como EUA, Reino Unido, Irlanda, Austrália, Malta, Espanha, África do Sul, Nova Zelândia e França também têm experiências culturais enriquecedoras.

Razões e benefícios

Ao optar por um intercâmbio, os brasileiros buscam mais do que apenas conhecimento acadêmico. A qualidade de vida, a reputação das instituições de ensino e a localização estratégica do país são os principais fatores que influenciam a escolha do destino. Além disso, a vivência internacional proporciona benefícios que vão além do aprendizado formal.

  • Aperfeiçoamento de um novo idioma: a imersão em outro país é a maneira mais eficiente de dominar uma língua estrangeira 
  • Exploração de novas culturas: o contato direto com a diversidade cultural ajuda a ampliar horizontes e a desenvolver empatia
  • Oportunidades de carreira: para muitos, o intercâmbio é o ponto de partida para novas oportunidades profissionais, seja no mercado local do país de destino ou como um diferencial no retorno ao Brasil

Expêriencia e oportunidade no Exterior

Para entender os melhores desafios e oportunidades enfrentados pelos brasileiros que decidem estudar e trabalhar no exterior, entrevistamos Fábio Majori, CEO da Perfect Deal, uma agência brasileira especializada em intercâmbios com foco no desenvolvimento acadêmico e profissional.

Com 13 anos de experiência, a agência atua conectando estudantes a destinos e programas que melhor atendem às suas metas e perfis. Segundo Fábio, os brasileiros têm buscado cada vez mais programas que combinam estudo e trabalho, especialmente em áreas de alta demanda global, como Tecnologia da Informação (TI), Marketing, Negócios, Saúde e

Áreas de estudo mais exigidas

“Tecnologia da Informação, Marketing, Negócios, Gestão de Projetos e Saúde são as áreas mais procuradas pelos estudantes brasileiros que querem se inserir no mercado de trabalho no exterior”, explica Fábio. Países como Austrália, Canadá e Alemanha oferecem cursos específicos para atrair estudantes estrangeiros e formá-los com foco em demandas locais, muitas vezes permitindo que esses profissionais se estabeleçam permanentemente.

Na Alemanha, por exemplo, há programas voltados para áreas como Saúde e Engenharia. Já no Canadá e na Austrália, TI, Gestão e Veterinária são setores com alta procura. “Esses cursos são criados em parceria com instituições de ensino e, muitas vezes, têm conexões com grandes empresas que recrutam diretamente estudantes internacionais”, acrescenta Fáb

O perfil dos brasileiros que se estabelecem no exterior

Segundo Majori, a maior parte dos brasileiros que se estabelecem no exterior já possui experiência consolidada no mercado nacional. “O perfil predominante é de profissionais com mais de 30 anos, formados em áreas como TI, Negócios, Engenharia e Saúde. Muitos têm pós-graduação e buscam melhores condições de trabalho, qualidade de vida e remuneração.”

O desafio de vir do zero

Fábio destacou que um dos maiores desafios para os brasileiros que buscam trabalhar no exterior é o período de adaptação inicial. “Ao chegar, relatado o estudante consegue trabalhar imediatamente na sua área de formação. Na maioria das vezes, eles começam em empregos na área de serviços e hospitalidade, como restaurantes, bares e hotéis”, explica.

Essa fase, embora desafiadora, permite que os estudantes conheçam a cultura local e desenvolvam resiliência. Com o tempo, geralmente após o primeiro ou segundo semestre, muitos começam a se inserir em vagas mais homologadas às suas formações.

Um movimento em crescimento

A procura por programas de intercâmbio que combinam estudo e trabalho cresceu significativamente nos últimos anos, especialmente após a pandemia. “Canadá, Austrália, Alemanha, Irlanda e Nova Zelândia estão entre os países mais procurados”, relata Fábio. Esses países oferecem permissões de trabalho para estudantes, possibilitando que eles cobrem suas despesas enquanto vivem experiências transformadoras.

DICAS PARA QUEM SONHA EM ESTUDAR E TRABALHAR FORA

Para os brasileiros que sonham em viver no exterior, Fábio Majori deixa conselhos práticos:

  • Planeje-se financeiramente: É comum começar em empregos fora da área de formação.
  • Escolha bem o curso e o país: Foque em áreas com alta demanda no mercado local.
  • Pesquisa no idioma: Um bom domínio da língua local aumenta as chances de sucesso.
  • Seja flexível: Esteja disposto a abraçar oportunidades e desafios fora de sua zona de conforto.

Com essas dicas, uma jornada de estudo e trabalho no exterior pode se tornar não apenas uma experiência enriquecedora, mas também uma oportunidade de transformação pessoal e profissional.

Oportunidades e Desafios

As histórias de Fabiana Vieira dos Santos,Vinicíus Rocha, Vinícius Andrade, Carlos Miguel Asensi e da Valkyria Rattmann ilustram os desafios e as recompensas que acompanham a decisão de migrar para estudar e trabalhar no exterior. Movidos por aspirações acadêmicas e profissionais, esses brasileiros descobriram que a experiência de morar fora envolve não apenas a busca por um futuro promissor, mas também a adaptação a novos ambientes, a saudade de casa e o confronto com novas culturas.

Em um movimento que não para de crescer, os brasileiros continuam a buscar no exterior mais do que apenas conhecimento acadêmico ou profissional, eles buscam vivências que enriquecem não apenas seu currículo, mas também seu lado sentimental. Por trás de cada número e dados estatísticos, há histórias de resiliência, como a de Vinícius Rocha que com apenas 5 euros, enfrentou um dia difícil na Alemanha, ou a de Fabiana, que viu na comunidade brasileira nos Estados Unidos uma rede de apoio fundamental. Essas experiências mostram que, apesar das dificuldades, a decisão de morar fora  do país são oportunidades de crescimento pessoal e profissional que ultrapassam barreiras.

Seja em busca de sonhos acadêmicos, novas carreiras ou experiências, esses brasileiros pelo mundo provam que é possível transformar saudades e desafios em aprendizado e sucesso , cada um  carrega um pedaço do Brasil consigo e, ao mesmo tempo, traz consigo o melhor de outras culturas, construindo um futuro onde as fronteiras são apenas linhas nos mapas.

Por Diogo Medeiros
Sob supervisão dos professores Luiz Claudio Ferreira e Gilberto Costa

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