Entre um sinal verde e vermelho (vem o amarelo), Bruno Pereira de Araújo, 19, carrega um cartaz com um pedido de ajuda, além de um saco de pipocas, que tenta vender no curto tempo em que o sinal está fechado, para conseguir algum sustento para ele e para sua filha Kemilly, de 3 anos. Nos últimos meses, essa cena se tornou cada vez mais comum nos semáforos de Brasília. Cartazes com pedidos de ajuda viraram a esperança de conseguir algum sustento para parte da população que está desempregada e desassistida por benefícios sociais.
Morador da cidade do Novo Gama, percorre aproximadamente 50 km por dia de ônibus para chegar ao sinal da Asa Norte, onde há pelo menos 3 anos, tem a rotina de segunda a sexta acordar às 5h da manhã e leva duas horas para chegar no sinal onde trabalha e fica até às 18h. Permanece sempre no mesmo sinal onde já é conhecido e consegue alguma ajuda por lá.
“O semáforo não é fácil, não gosto de ficar no sinal, no sol quente. Recebo muita humilhação, mas em relação a isso eu nem ligo muito, entrego na mão de Deus”, conta. Ele ficou 2 semanas sem poder ir trabalhar no sinal por causa de sua filha que ficou doente e ele teve que acompanhá-la ao hospital. Ele espera poder voltar a trabalhar logo, mas relata que fica mais difícil ficar no sinal nesse tempo de chuva. Além disso, tem que deixar sua filha com a mãe.
No momento, a mãe dele, Tatiane Pereira Magalhães, 47, está desempregada. Por outro lado, o pai conseguiu um emprego há cerca de 2 meses. Quando conseguir quitar algumas de suas dívidas, irá ajudar Bruno a comprar objetos para sua casa.
Mãe desempregada
Whitney Gomes Tavares, 18, mãe de Kemilly, mora em Planaltina e por isso só vê a filha em alguns finais de semana. Trabalhava de faxineira em um restaurante, mas também está desempregada desde o início da pandemia. A única ajuda que recebe é do bolsa família. “Ela recebe R$ 250 do bolsa família, vai R$ 200 para o aluguel e os R$ 50 restantes para comprar algumas coisas pra casa”
Ele não pôde contar com os R$ 600 do Auxílio Emergencial porque a situação ficou “em análise”. O que consegue arrecadar no sinal faz a diferença para conseguir comprar algumas coisas para casa.
“Corri atrás do auxílio, não consegui. No momento não estou recebendo nada. A mãe dela (da filha) recebe o bolsa família, e é muito pouco. O auxílio não foi aprovado. Tentei arrumar emprego no atacadão que abriu aqui, fiz a entrevista mas até hoje não me chamaram. Provavelmente não tem mais vaga”
Bruno só estudou até o 6º ano e começou a trabalhar como auxiliar de pedreiro quando tinha 17 anos, ajudando o pai, Luiz Marco de Sousa, de 56 anos. O rapaz, ainda jovem, espera poder voltar a estudar no ano que vem.
Por Ravenna Alves
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira