Uma medalha de prata nas Olimpíadas de Londres, outra de bronze nos jogos do Rio de Janeiro. Dezenas de outros prêmios internacionais, reconhecimento e aplausos. Mesmo assim, o jogador de goalball Leomon Moreno, artilheiro da Seleção Brasileira, divide-se em dois times e conta com o auxílio do bolsa atleta para pagar as contas. A trajetória vitoriosa do rapaz nascido na Ceilândia (região administrativa mais populosa e carente do Distrito Federal) é considerada um feito inimaginável quando tudo começou. “As dificuldades que eu tive ao longo da carreira fazem com que eu valorize mais tudo o que tenho”, diz.
Leomon Moreno, 24, nasceu com retinose pigmentar e, por isso, tem percepção de claridade, mas sem reconhecer formas. Apesar disso, ele sempre gostou de esportes e encontrou na prática uma forma de superar partes da sua vida. Aos 7 anos, ele conheceu o goalball, um jogo praticado por atletas que possuem deficiência visual e o objetivo é arremessar uma bola sonora com as mãos, no gol do adversário. Aos 14 anos, começou a competir pela categoria.
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Jornada de 15 horas
O jogador conta que passou por diferentes níveis na carreira e precisou até mesmo adotar uma jornada dupla de trabalho entre a massoterapia e o goalball para obter “autonomia financeira” e custear a participação nos jogos. “Eu trabalhava de manhã e treinava durante a tarde. Saía de casa às 5 da manhã e voltava às 20 horas da noite. Muitas vezes eu jogava goalball só por amor. Eu pagava a minha passagem, a minha hospedagem e o custo para participar de alguns campeonatos”.
Desde a contratação pelo Santos Futebol Clube em 2016, o time ofereceu condições ao paratleta deixar a massoterapia e se dedicar apenas ao goalball. Moreno explicou a importância do clube no esporte paralímpico, já que é um das únicas equipes que investe nas categorias. Além disso, ao implantar o goalball em 2006, o Santos foi primeiro a financiar a modalidade no Brasil.
O jogador ainda exaltou a importância do Santos para o seu currículo e para a sua carreira. “Dos grandes times é o único que investe no goalball. O Santos deu uma importância muito grande para a nossa modalidade e assim que eles tiveram condições de me contratar, eu aceitei como um grande crescimento para a minha carreira e para o meu currículo”.
Além do Santos, Leomon também joga pelo Sporting de Portugal. Segundo ele, não há uma confederação internacional que proíba jogar por dois times ao mesmo tempo no mundo, apenas no mesmo país. Assim, ele possui épocas de temporada e treinamentos de acordo com as competições.
“Esse primeiro semestre de 2018 está pesado para mim. Tenho fase de treinamento aqui em Santos, pela seleção brasileira e pelo Sporting de Portugal. Eu ainda moro em brasília, mas passo cerca de 15 dias fora. Fico uma semana treinando com os times e depois passo mais 5 dias na preparação para as competições e daí volto para brasília”, explica o paratleta.
Tratado a “pão de ló”
Segundo Leomon Moreno, o Brasil é o país que mais investe no atleta do goalball. Na europa, os times costumam contratar atletas por temporadas ou pelas competição que os atletas vão participar pois é mais vantajoso para as equipes. “Eles não têm condições de pagar um atleta mensalmente para que o atleta fique disponível para eles. Nos Estados Unidos, Canadá e Europa, todos praticam o goalball por realização e “hobby” até porque eles recebem por competição”.
Apesar disso, o paratleta afirma que em relação a estrutura, a Europa sai na frente pois as bolas oficiais confeccionadas para o goalball atualmente são produzidas na Alemanha ou no Canadá. “Na Europa todos possuem um acesso fácil à bola. Aqui no Brasil custa mais de R$ 700 uma bola. Lá na Europa custa 40 ou 50 euros (cerca de R$ 200). Além disso, lá eles tratam o atleta a pão de ló. Toda a estrutura que precisa, material de treino, material de competição, material de quadra, é tudo muito bem montado, para a melhor preparação do atleta”.
Para Leomon, no Brasil, o maior pólo de goalball do país é em São Paulo. Segundo ele, além do Santos, outro que oferece bastante estrutura e financiamento de atletas do goalball é o Sesi-SP. Inclusive nas últimas competições nacionais e regionais, as finais foram realizadas pelo Santos e Sesi. Em relação aos clubes, o Sporting é o maior em relação à estrutura no mundo. A nível de seleção, ele afirma que o Brasil está muito bem classificado quanto ao esporte e as competições. “O Brasil, a Lituânia e os Estados Unidos fazem a diferença no goalball”.
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Bolsa atleta
Leomon conta com o incentivo do bolsa atleta (enquadrado como de alto rendimento, de aproximadamente R$ 12 mil), um programa de patrocínio individual de atletas do governo brasileiro. Esse benefício contempla esportistas de alto rendimento que obtêm bons resultados em competições nacionais e internacionais de sua modalidade.
De acordo com o jogador, há uma diferença muito grande dos benefícios em relação ao esporte coletivo e individual, além da restrição dos resultados para garantir o amparo. “ É uma luta nossa do esporte coletivo por uma igualdade. A gente tem que competir da mesma forma que todos, de ficar em 1º, 2º, 3º lugar do pódio das competições vigentes, a ter direito de pleitear essa bolsa. Hoje em dia o bolsa atleta só contempla quem tem medalha”.
Uma preocupação do jogador nesse momento é também chamar a atenção para o esporte pelo país para um público muito especial: crianças com algum tipo de limitação visual. “Eu gosto muito de divulgar a minha modalidade também porque o goalball é pouco conhecido até dentro do Brasil”.
Por Mariana Fraga e Ricardo Ribeiro
Supervisionado por Luiz Claudio Ferreira.