O Boletim Epidemiológico de Aids e DST publicado pelo Ministério da Saúde mostrou que, de 1980 a junho de 2017, foram identificados no país 882.810 casos de aids no Brasil. O país tem registrado anualmente uma média de 40 mil novos casos de aids nos últimos cinco anos. Do total dos casos descobertos, 38,1% são de idosos, contra 11,9% na faixa entre 18 e 24 anos. Uma característica, porém, que assusta os especialistas é que os mais velhos ficam mais suscetíveis a doenças oportunistas para quem tem o vírus.
Segundo os especialistas, é na faixa acima dos 60 anos que se concentra a maior proporção de diagnóstico tardio. O maior tempo de vida das pessoas, o aumento da qualidade de vida na terceira idade e a falta de hábito quanto ao uso de preservativo tem provocado um aumento de casos de infecção pelo vírus de HIV na população acima dos 50 e 60 anos. O problema é essas pessoas não se reconhecerem como um grupo vulnerável à aids.
A médica Maria Inês Hernandez Lopes diz que “o HIV está relacionado a uma interface que é extremamente trabalhada na sociedade que é a sexualidade. Esta, caminha independente da educação, da religião. Se você não abordar de frente os tipos de sexualidade e comportamentos – bissexualidade, infidelidade, múltiplos parceiros – as pessoas acham que não vão pegar”.
De acordo com Assessoria do Ministério da Saúde, a doença tem modificado seu perfil nos últimos anos, com aumento em jovens, mas as infecções sexualmente transmissíveis entre idosos é uma preocupação constante. Há um crescimento do número de idosas infectadas pelo vírus do HIV (vírus da imunodeficiência humana). As estatísticas mostram que o aumento de casos é de 5,6 para 6,4 casos por 100 mil habitantes.
Mais vulneráveis
A aids – síndrome da imunodeficiência adquirida – produz efeitos mais complicados no organismo do idoso. Essa população é imunossuprimida (eficiência do sistema imunológico reduzida) por causa da idade e pode acontecer da doença ser descoberta bem depois do idoso ficar doente. Por isso, é importante a detecção precoce. Não se deve esperar o indivíduo adoecer para começar o tratamento e tentar baixar a carga viral.
O portador de HIV, independentemente da idade, já tem o envelhecimento biológico mais precoce. É como se as células envelhecessem mais rápido nesse grupo do que no não infectado. Esse envelhecimento é em torno de 10 a 15 anos. Um idoso com 60 anos infectado com HIV teria, celularmente, uns 75 anos.
As doenças próprias do envelhecimento acometem os pacientes HIV positivo mais precocemente. Entre elas estão diabetes, dislipidemia (aumento da taxa de lipídios/gordura no sangue), risco de AVC mais precoce e eventos cardiovasculares.
As pessoas infectadas com o vírus HIV ainda se queixam de sofrer preconceito, mesmo que a ideia de grupos de risco não tenha mais validade nos dias de hoje. A hipótese de ter AIDS é associada à promiscuidade sexual, sexo sem proteção e uso de drogas injetáveis. Por isso, é difícil que a população em geral aceite o fato de que senhores e senhoras com mais de 60 anos sejam infectados com o vírus HIV por causa do comportamento de risco.
“A educação é a chave. Há uma certa individualização. Os parceiros não pedem exames de HIV para outros parceiros. A pessoas ficam desprovidas de proteção quando acham que são isentas de ter vírus”, diz a especialista em HIV/AIDS Maria Inês Lopes.
A Assessoria do Ministério da Saúde diz que realiza ações na prevenção do HIV/Aids e sífilis entre pessoas na faixa etária acima de 50 anos. A prevenção é diversificada com ações de prevenção que inclui distribuição de preservativos masculinos e femininos, gel lubrificante, ações educativas e ampliação de acesso a novas tecnologias, como testagem rápida (incluindo fluido oral), profilaxia pós-exposição e profilaxia pré-exposição.
Por Claudia Sigilião, Maria Eduarda Nóbrega e Thalita Dias
Imagem: Ministério da Saúde / Divulgação
Arte: Agência de Criação UniCEUB
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira e Aline Parada