Tempo para estudar e cuidar dos filhos. Para a mãe, esse é um desafio mais do que especial. Há até quem desista dos livros por conta da maternidade. Isso tira o sono de muitas mulheres. Em vista dessas dificuldades, a jornalista Fernanda Vicente, de 36 anos, iniciou o projeto “Mães no ENEM”. A proposta é criar, por meio da internet, uma rede de voluntárias com quem as mães possam deixar os filhos nos dias do exame (5 e 6 de novembro). A ideia se espalhou rápido e englobou todas as regiões do país. Na página do Facebook do projeto, há uma lista disponível com todas as ajudantes, organizada por estados.
“Precisei deixar de fazer faculdade para dar conta da demanda das filhas”. O relato é da estudante Ana Carolina Cortez, 36, que teve a primeira filha aos 15 anos. Apesar da frase ser de autoria dela, o conteúdo é recorrente e denuncia a realidade de muitas mães no Brasil. Dados do IBGE de 2015 mostram que houve uma redução de 78,8% para 60,5% na taxa de mães jovens.

“Fiquei sabendo pelo Facebook. Tenho diversas feministas adicionadas, e como uma delas teve essa brilhante ideia, resolvi aderir”, disse a estudante curitibana Giulia Dalle Cort, 20. Ela relata que se voluntariou por estar ciente dos desafios de ser uma mãe jovem. Na lista das ajudantes, está a artesã Marcilea Back da Silva, 43, que viveu essa situação na pele. “Nunca tive ajuda de ninguém para fazer concursos, ENEM ou faculdade. Isso é muito frustrante”.
Além delas, a professora Mariana Luiza Santos, 26, também ficou sabendo da inciativa através de grupos feministas online. Pensando em exercer a sororidade (solidariedade entre mulheres), ela se voluntariou para o projeto. “A vivência materna é extremamente romantizada e imaginamos que mães tem que dar conta de tudo”, explica.
Na faculdade
Na página “Mães no ENEM”, algumas ajudantes comentam sobre a criação de um “Mães na Universidade”. “Acho que as faculdades deveriam ter um berçário para auxiliar”, comentou a mãe e estudante Amanda Lapa, 19, sobre a falta de amparo e estrutura inclusiva nas instituições de ensino.
A pedagoga Joana Pires, 50, foi mãe precocemente e sofreu com a falta de flexibilidade dos professores. Ela expressa a importância do apoio institucional para uma maternidade tranquila. “As mães precisam do direito de poder estudar e cuidar de seus filhos. Os professores precisam dar essa liberdade às mães”.
Por Isabella Cavalcante
Colaborou Beatriz Castilho