A psicanálise pode ser instrumento para diminuir a violência nas escolas. Essa é uma das conclusões da tese de doutorado da professora brasiliense Thais Sarmanho Paulo. O trabalho foi transformado no livro Violência e escola: escuta de professores e análise das práticas profissionais, de orientação psicanalítica, que deve ser lançado neste mês.
A tese é fruto de um estudo de três anos em uma escola do Guará, uma região administrativa do Distrito Federal. Com o trabalho de método de escuta diferenciada, a educadora tinha o objetivo de entender o que move os professores a solicitarem dispensas, se demitirem, ingressarem com atestados médicos, entre outras questões.
Após um episódio de violência em uma escola do Distrito Federal, que fechou as portas após a ocorrência, Thais se deslocou até a instituição para saber se os professores gostariam de ser ouvidos. “Na verdade eles queriam qualquer coisa, tamanho era o mal estar”, detalhou. Para a psicanalista, é necessário saber que a satisfação plena é impossível e, por essa razão, a expectativa dela gera frustração. “O mal estar está principalmente nas relações”, explicou.
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O mal estar na psicanálise não é aquele passamento que temos e até desmaiamos. Segundo Freud, o mal estar é inerente ao sujeito social, ao sujeito da cultura. |
A doutora em educação destacou, ainda, que o trabalho de escuta é perceber o que o outro diz nas entrelinhas do discurso. “Nas falhas do discurso, nas contradições, no lapso”, exemplificou. O primeiro projeto de escuta, seja com professor ou aluno, visa implicar a vida do outro, fazer com que ele compreenda por que está ali. “Na escola fomos tentar implicar os professores na prática. Ver que, muitas vezes, não estão ali ‘por que não conseguem algo melhor’”, contou. Segundo Thais, nada é garantido, as ações são sempre uma aposta, movidas pelo desejo. “É da ordem do impossível desejar que os alunos, por exemplo, saiam da sala entendendo tudo, sabendo de tudo”, ressaltou.
Para ela, o resultado da compreensão de tamanha insatisfação e desmotivação trouxe bons resultados. Os efeitos das práticas psicanalíticas fez com que os professores percebessem a razão de estarem ali. “Eles viam que faziam parte daquilo, buscavam no que podiam melhorar”, esclareceu. “É uma idealização absoluta uma escola perfeita, em que todos os alunos sejam respeitosos e educados. Sem a idealização eles conseguem ver a potência do que poderiam ser”, acrescentou.
A psicanalista considerou, ainda que a educação contemporânea é diferente da educação passada. Em razão disso, segundo ela, educadores ficam presos a nostalgia. E o sentimento, para Thais Sarmanho, é uma forma de impotência. “Uma escola nostálgica, presa ao ‘na minha época’, cai na impotência. E ao cair na impotência não conseguimos realizar nada”, disse.
A professora detalhou o assunto durante mesa-redonda sobre Psicanálise e Educação no XII Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão realizado pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).
Por Daniella Bazzi
