Reportagem em cordel: a história de Branca do Duda

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Cordel em homenagem a Maria Perpétua Socorro

Acervo pessoal

Numa terra de Minas Gerais,
Em Pará de Minas nasceu,
Branquinha de olhos de esmeralda,
Foi assim que tudo ocorreu.
Maria Perpétua Socorro, seu nome,
Mas Branca, o pai a escolheu.

Cabelos dourados ao sol,
Pele clara como o luar,
Ainda menina, perdeu
O pai, tão jovem a penar.
Aos treze, a mãe se casando,
Ela escolheu se afastar.

Foi viver com sua tia
Na capital do sertão.
Logo em BH aprendeu
A lidar com o coração.
Com quatorze, o fumo veio,
Virou seu fiel irmão.

Um ano depois partiu
Pro interior goiano,
Na roça de Itapaci,
Mudou todo seu plano.
Lá conheceu seu destino,
E foi traçado o arcano.

Era Duda o apelido
De José, homem gentil.
Branca virou companhia
Da mãe dele, tão sutil.
O amor, então, floresceu,
Num cenário tão febril.

Aos vinte e cinco, casaram,
E juntos ergueram chão.
Tiveram três filhos lindos,
Dois brotos e um cidadão.
Tocavam um armazém
Conhecido no sertão.

Mesmo com pouca instrução,
Até a quarta estudou,
Mas Branca era mulher forte,
Nada nunca a derrotou.
Comanda a casa e o negócio,
E a cidade a respeitou

“Branca do Duda”, chamavam,
Nome doce no ouvido.
Rígida com os seus filhos,
Mas sempre muito sentido.
Fez da educação um norte,
E o futuro foi erguido.

Mandou todos pra cidade
Estudar com devoção.
Sonho que ela não viveu,
Mas que fez sua missão.
Mãe, esposa, trabalhadora,
Com amor no coração.

Cozinhava como um anjo,
Costurava com primor,
E nas manhãs bem cedinho
Ia fazer seu favor:
Na lotérica da praça
Deixava o seu sonhador.

Seu jardim era um poema,
Com mamão, rosa e jasmim.
Hortas, orquídeas, cuidados,
Canteiro sempre sem fim.
Branca era flor valente,
Resistindo até o fim.

Em dois mil e dezesseis,
Veio o câncer traiçoeiro,
E no mesmo triste ano,
Perdeu seu fiel parceiro.
Sem o Duda, Branca ficou,
Com olhar mais derradeiro.

Mas venceu a tal doença,
Seguiu firme, como antes.
Até que em dois mil e dezenove,
Vieram dias cortantes.
A metástase chegou,
Com sinais tão alarmantes.

No pulmão e no fígado,
O mal veio pra lutar.
Mas Branca não se curvava,
Mesmo prestes a tombar.
Cercada pela família,
Ela pôde descansar

Tinha oito netos queridos,
Sua maior alegria.
Sempre atenta, sempre firme,
Com amor que irradia.
Seu maior orgulho era
Ver a infância em harmonia.

Foi mulher de mil batalhas,
Teimosa, brava e sincera,
Mas com brilho no sorriso
E alma de primavera.
Por onde passava, deixava
A presença mais sincera.

E nos olhos verdes dela,
Um silêncio a se notar:
Nunca mais viu sua mãe,
Nem os irmãos a abraçar.
Mas amou a vida inteira,
Sem jamais desanimar.

Dona Branca do Duda vive
Na memória e no querer.
No exemplo que deixou,
No jeito de bem viver.
Partiu, mas virou saudade,
Que o tempo não vai vencer.

Acervo Pessoal

Por Ane Caroline Costa
Supervisão de Luiz Claudio Rerreira

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