Com o sucesso estrondoso do single drivers license, lançado em 8 janeiro de 2021, Olivia Rodrigo chamou atenção na mídia por sua estreia no topo das paradas de plataformas como Billboard Hot 100, Spotify Global e Apple Music. O hit chegou à primeira posição dos mais ouvidos em diversos países, incluindo o Brasil. Com apenas 18 anos, Olivia gravou e lançou seu primeiro álbum de estúdio, que cativou não só o público, mas também a crítica.
Capa do álbum SOUR (Imagem: Divulgação/Geffen Records)
Este ano, a cantora, compositora e atriz conseguiu ser indicada em sete categorias no 64° Grammy. Entre elas, as quatro principais da noite: artista revelação, álbum do ano, gravação do ano e canção do ano (as duas últimas por drivers license). O intitulado disco SOUR, lançado em 21 de maio do ano passado, transmite em onze faixas a sensibilidade de uma adolescente, de modo que qualquer idade possa se identificar.
Nova geração
A Recording Academy tem começado a dar mais espaço e destaque a artistas jovens na indústria musical, tais quais Billie Eilish (20), Lil Nas X (22) e a própria Olivia (19). Em 2021, Eilish foi declarada a pessoa mais jovem da história a ser indicada nas “Big Four” (as quatro categorias mais importantes do Grammy), e esse ano, Rodrigo se encaixa como a segunda mais jovem a conquistar tais indicações ao mesmo tempo.
Vale lembrar que nos dois últimos anos, Eilish levou grande parte dos Grammys a que foi indicada, e há apostas de que será a vez de Olivia neste domingo (3 de março). Além da Academia, a autora de drivers license já acumula diversas estatuetas de outros eventos de premiação, como American Music Awards, People’s Choice Awards e Brit Awards – em maioria na categoria artista novo.
A compositora no tapete vermelho do AMAs (Imagem: Matt Winkelmayer/Getty Images for MRC)
Assim como outros nomes da música, Rodrigo iniciou sua carreira cedo nos estúdios Disney, o que a impulsionou para o meio da composição musical. Como uma das protagonistas da série High School Musical: The Musical: The Series, do Disney+, ela teve a oportunidade de escrever e lançar músicas em nome de sua personagem. Assim, antecipou o público para o seu próprio álbum de estreia.
Sonoridade e letras
A sonoridade de determinadas músicas de SOUR surpreende pelo uso de elementos do punk rock, destaque entre as predominantes baladas pop. A presença de guitarras nos momentos mais inesperados inicia o álbum de maneira interessante. A saber, as faixas brutal e good 4 u trazem de volta os anos 2000, com letras honestas e cheias de revolta à pressão social e a ex-namorados.
“Talvez eu me demita e comece uma nova vida. E eles ficariam tão decepcionados, já que quem sou eu, se não explorada?”
Já nas letras de traitor e favorite crime, por exemplo, é retratado de forma melancólica o fim devastador de uma relação e as impressões pessoais da cantora.
“E eu assisti enquanto você saía de cena, inocente enquanto você me enterrava. Um coração partido, quatro mãos ensanguentadas”
De acordo com Olivia, sua vontade era finalizar o álbum de forma esperançosa, e daí surgiu a música hope ur ok, com pegadas do folk. Muitos fãs analogam a letra a críticas ao preconceito sobre a comunidade LGBTQIA+. Ao descrever personagens em segunda pessoa, ao contrário do resto das letras, Rodrigo abre espaço para livres interpretações e identificações dos fãs.
Com produção de Daniel Nigro e Alexander 23, o terceiro single do álbum, good 4 u, foi alvo de discussão entre os internautas. O motivo seria a similaridade da melodia com a música Misery Business da banda Paramore. Meses depois do lançamento da canção, dois dos membros da banda acabaram sendo creditados na faixa. Além disso, a música 1 step forward, 3 steps back traz Taylor Swift como uma das letristas, sendo ela uma inspiração para a autora do SOUR como compositora.
Documentário
Como forma de registrar o processo de criação do SOUR, foi produzido um documentário que já está disponível no streaming Disney+, chamado Olivia Rodrigo: driving home 2 u. Nas telas, a cantora faz uma viagem de carro e retorna aos locais onde escreveu as músicas do álbum. De faixa em faixa, ela comenta as inspirações e dificuldades na criação das letras, quase todas escritas durante a quarentena, em 2020. O longa conta também com performances ao vivo, porém com arranjos diferentes dos originais: a predominância dos elementos do punk rock novamente chama atenção. São exibidas cenas caseiras de Olivia e seu produtor, Dan Nigro, no estúdio de gravação, nas quais são reveladas versões com letra e música diferentes das definitivas. “Acho que especificidade e autenticidade são minhas coisas preferidas numa canção”, relata a artista no documentário, ao caracterizar a faixa deja vu.
De um modo ou de outro, o público costuma não dar o devido valor a uma obra ou projeto feito por jovens, ainda mais de mulheres. Olivia é alvo da banalização de suas letras, por serem consideradas dramáticas e abordarem, em maioria, relacionamentos amorosos “banais”. Mas bem além disso, o álbum por inteiro é verdadeiro e cruel sob os ouvidos de quem o escuta. A junção do pop melodramático com o punk agressivo abre caminho para uma nova onda do rock, juntamente com WILLOW e outros artistas que apostaram nessa sonoridade em falta na indústria musical. Tudo isso somado às letras cativantes transporta o espectador para a mente da autora quando sentiu o que escreveu. Dessa forma, o ouvinte experimenta a visão da artista e, mesmo que não haja identificação, causa emoção.
Por Luiza Guido