Existem cerca de 400 alunos surdos matriculados nas escolas regulares do Distrito Federal, de acordo com a análise realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira em 2014. Segundo o professor da Secretaria de Educação, Antônio Leitão, há aproximadamente 100 professores habilitados em libras, a língua brasileira de sinais, dentro das salas de recurso. Há três anos, a Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga trabalha não só para o desenvolvimento acadêmico dos alunos, como também no incentivo a autonomia deles. Em salas de até seis alunos, o empenho é nítido na concentração e no silêncio que são absolutos durante a aula.
Comunicação por gestos
A Escola Bilíngue de Taguatinga, que conta com 280 alunos, sendo 130 surdos, segue o currículo regular de ensino, a diferença das demais escolas é que todos os professores ensinam em libras. Além do ensino infantil, fundamental e médio, a instituição ainda oferece o ensino para jovens e adultos no período noturno. “A gente trabalha libras como primeira língua e o português escrito como segunda língua”, explica a coordenadora Cirlene Nabelo, 39.
Em 2015, entrou em vigor a Lei Brasileira de Inclusão (13.146/15) que determina que todas as escolas de ensino regular se adaptem para receber também os alunos com algum tipo de deficiência. A professora Mônica Resende, que trabalha com surdos há 21 anos, relata que essa medida pode comprometer o aprendizado do aluno deficiente auditivo. “A função do intérprete educacional deixa a desejar uma vez que ele só traduz o que tá sendo dito pelo professor, ele não tem como ficar interrompendo a aula para dar uma explicação mais elaborada”, justifica.
Ela explica que o ganho de ter uma aula que priorize o aluno deficiente, em uma turma de no máximo seis alunos, é muito grande. “Aqui eles interagem, se eu vejo que eles não estão entendendo, eu paro e explico de novo”. A estudante Heloíse Magalhães, que foi aprovada no vestibular da Universidade de Brasília para o curso de Língua Brasileira de Sinais/Português como Segunda Língua, conta que teve dificuldades para acompanhar as aulas na escola inclusiva. “Não conseguimos aprender de forma qualificada por causa da língua portuguesa. Por ser uma língua muito complexa, leva tempo para entender os conteúdos que são ensinados.” Hoje, o maior sonho da universitária é lecionar para deficientes auditivos: “Meu desejo é trabalhar com alunos surdos”.
A coordenadora Cirlene Nabelo comenta que a instituição não enfrenta problemas para disponibilizar vagas para os alunos. Ela explica que, se necessário, são abertas novas turmas. A maior dificuldade que o colégio tem é de encontrar professores habilitados em libras. Apesar dos obstáculos, Cirlene se orgulha ao falar que a maioria dos alunos formados no terceiro ano do ensino médio segue carreira e entra na faculdade. Além de educar e estimular a autonomia, a escola ainda se dedica a aprimorar o diálogo entre os familiares. Periodicamente, são oferecidos cursos de libras para que os pais consigam se comunicar melhor com os filhos.
Desenvolvendo a fala
O Centro Educacional da Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (CEAL-LP) é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, que trabalha para desenvolver a fala nas crianças e nos jovens com deficiência auditiva. De acordo com o diretor, o Padre Giuseppe Rinaldi, os principais objetivos do Centro são o diagnóstico e reabilitação precoce, e inclusão no ensino regular. O método utilizado pela entidade é o aurioral, que consiste em utilizar o resíduo auditivo para que se desenvolva a audição e a linguagem nas crianças.
Por ser uma instituição conveniada ao SUS, assim que é detectada alguma deficiência na audição do bebê, por meio do teste da orelhinha, ele é encaminhado para o CEAL. “Encaminham para cá para que a gente possa refazer o teste, aprofundar o exame para fazer um diagnóstico mais objetivo. Se tem algum problema, nós assumimos logo para a reabilitação”, explica o Padre Rinaldi. O acompanhamento segue até a conclusão do ensino médio na escola regular.
Giovana Batista é mãe do Pedro Lucas, 5, que tem problemas de audição. Quando foi diagnosticado, o menino foi direcionado para o Centro, onde recebeu o implante coclear e começou a ser acompanhado. Além dos professores, a instituição conta com mais de 80 profissionais, entre eles nutricionistas e fonoaudiólogos. A fonoaudióloga Cristiana Farhat justifica a importância do acompanhamento profissional desde o início. “Esses dispositivos (aparelhos auditivos) sozinhos não fazem milagre. Precisa do direcionamento de um profissional”.
A profissional ainda comenta a importância da família durante o processo. “A parceria efetiva da família é o ponto principal para que a gente alcance um bom o uso do aparelho e das estratégias de comunicação dentro de casa”. A instituição funciona como auxílio à inclusão. “Todas as crianças e os jovens devem estar matriculados no ensino regular e têm aqui o apoio, seja pedagógico, seja reabilitativo, para que eles possam viver da melhor forma que for possível”, explica o Padre Giuseppe Rinaldi.
A demanda do CEAL é muito grande devido à política de intervenção precoce. No momento, a entidade está com dificuldades para comprar os aparelhos auditivos. Isso porque, o dinheiro do governo não é repassado para a instituição desde novembro do ano passado. A Secretaria de Saúde informou que o pagamento está atrasado devido a divergências de informações contidas nas notas referentes aos meses de novembro e dezembro de 2015 e janeiro de 2016. De acordo com a pasta, o Centro entregou os documentos no início de abril e estão sendo analisados conforme as regras contratuais. Se estiverem adequados, serão encaminhados para pagamento.
Por Tâmila Lapa