Cerca de 300 moradores de 76 residências da Vila Cauhy, no Núcleo Bandeirante, ficaram desalojados por conta da última inundação na Vila, e mesmo assim não querem deixar suas casas. A região, que faz parte de uma reserva ambiental, é uma das 36 áreas de riscos no Distrito Federal (DF), registradas pela Defesa Civil. As pessoas alegam que não têm condições financeiras para saírem do local, e ainda esperam por uma resposta do governo que prometeu regularizar a situação.
Na encosta do córrego Guará, a Vila sofreu a última inundação em janeiro deste ano. Os moradores tiveram apenas perdas materiais. Mesmo com os prejuízos, os moradores não optaram pelo centro comunitário da cidade, mas decidiram ficar na casas de amigos e familiares da mesma região por temerem que o governo derrube as moradias alagadas.
Segundo os moradores, o governo já esteve no local e prometeu ajudá-los a resolver o problema. Foram doadas pela Secretaria de Gestão do Território e Habitação (Segeth) cestas básicas e uma ajuda de custo de R$ 408 para cada família.
De acordo com a moradora Jéssica dos Santos Nascimento, 24 anos, a água chegou a ficar na altura do peito. “A gente estava dormindo, de repente todos começaram a gritar: está alagando. Tive muito prejuízo, perdi roupas, perdi minha cômoda e todos os meus alimentos”, lamenta. Ela conta que a administração da cidade ajudou muito, mas não foi como esperavam.
Outra moradora que não quis se identificar, relata que a ajuda de custo de R$ 408,00 dado pelo governo do DF não foi suficiente. Mesmo ciente do risco, é observado que muitas pessoas não tem para onde ir e se negam a serem deslocadas para fora do DF.
No caso de Isaura da Conceição da Silva, 39 anos, outra moradora da vila que teve as perdas semelhantes, a ajuda do governo foi suficiente para repor o prejuízo. Há 22 anos na vila, ela explica não ser a primeira vez que presenciou uma enchente. “Na última, o governo arrumou minhas máquinas de roupa e de costura, e também me deu R$ 408,00 como ajuda de custo. Achei muito bom porque não tinha condições de arrumá-las sozinha”.
A comerciante local, Edsandra Benvinda da Costa, 41 anos, que reside no local há 15 anos, também sofreu com os danos da enchente, mas alega que só aceitaria ser deslocada se fosse para dentro da Vila Cauhy, “Fomos no posto de atendimento da CODHAB que fica aqui na vila, mas eles não deram uma resposta definitiva” .
Alto risco
O chefe do Núcleo Operacional da Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil, Carlos Alberto dos Reis Silva, alerta que a Vila Cauhy possui uma área de risco muito alta. Além da ameaça aos moradores, também há um grande impacto ambiental. Ele explica que os moradores não respeitam o limite de distância do córrego e por ser um local sem saneamento básico e sem infraestrutura apropriada, todo o esgoto acaba sendo depositado no rio. “A Defesa Civil fez o que pôde para socorrer os moradores nas enchentes. Eles estão cientes dos riscos e mesmo assim não querem se deslocar para outra área”, conta.
O administrador do Núcleo Bandeirante, Cleudimar Sardinha, 43 anos, declarou que a administração da cidade tem um papel neutro para mediar o contato dos moradores com o governo. “É possível a regularização, mas essa regularização vai ter que seguir algumas etapas e obedecer critérios. Um deles é a desocupação da área de 30 metros do córrego”, explica Sardinha.
È possível deslocar os moradores para a mesma área sem desobedecer o limite recomendado, mas tudo depende do processo de regularização da área que ainda está no IBRAM (Instituto Brasília Ambiental). O projeto prevê deslocar os moradores para uma região mais alta dentro da própria Vila. Segundo a Administração, não há previsão de quando o processo vai sair do IBRAM e voltar para a CODHAB e se vai dar para regularizar ou não aquela região.
A Administração Regional do Núcleo Bandeirante informou por meio de nota que os moradores da Vila Cauhy recebem acompanhamento desde o início e regularmente são realizadas intervenções na área como limpeza do córrego e suas margens, plantio de mudas nativas da região e trabalho de conscientização de descarte de lixo.
A Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh), informou que todas as famílias foram referenciadas no Centro de Referência Assistência Social (Cras) Núcleo Bandeirante e estão sendo acompanhadas. Já a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (CODHAB) disse que ainda não houve a realocação de moradores, mesmo com o risco de outras inundações. Contudo, está sendo realizado um levantamento para que isso ocorra, mas ainda sem data definida.
O Instituto Brasília Ambiental (IBRAM) declarou, por meio de nota, que a Vila Cauhy está localizada em uma área de proteção ambiental (ARIE), e por isso, o processo foi passado para o órgão, mas ainda está sob análise. Os moradores, no entanto, vão ter que aguardar o Instituto terminar a avaliação e devolver o processo para a CODHAB.
Por Roberto Marques