A agricultora Tânia Aguiar fez do plantar e colher sustentável a principal fonte de renda. Desde o ano de 2018, ela, o marido e o filho fazem parte de uma ação empreendedora chamada de “Comunidade que Sustenta a Agricultura” (CSA) localizada no pré-assentamento Canaã, na região administrativa de Brazlândia (DF).
Ela e a família plantam frutas, hortaliças e legumes sem agrotóxico e de forma sustentável.
“A gente planta reflorestando. É uma alimentação livre de agrotóxico, saudável e que cuida do nosso meio ambiente”, explica a trabalhadora. A CSA em que ela trabalha tem um nome inspirador, a do patrono da educação brasileira, o professor Paulo Freire. A iniciativa da CSA, tocada majoritariamente por mulheres como Tânia, beneficia 6 famílias no local.
Transformação
Antes de ser ocupada por integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), o assentamento na região administrativa de Brazlândia (DF) cultivava apenas uma monocultura de eucalipto.
Trata-se de uma região de 370 hectares em que, pouco a pouco, graças a iniciativas de agricultura familiar, tem conseguido retomar espaços de mata nativa, ao invés de ser explorada para exploração de madeira. As agroflorestas e experiências de CSA dão o sustento aos acampados.
O pré-assentamento Canaã, localizado em Brazlândia (DF), é um exemplo do poder de transformação que a agricultura familiar tem nas vidas das famílias e do meio ambiente.
Responsabilidades
A Comunidade que Sustenta Agricultura, conhecida como CSA, é uma abordagem que busca mudar as relações entre agricultores e consumidores e causar uma ruptura no sistema convencional de comércio através da sustentabilidade e produção orgânica.
Nessa proposta, o consumidor passa a ser um co-agricultor, onde ele contribuirá com uma cota mensal e semanalmente receberá uma cesta de produtos plantados conforme a sazonalidade.
Agricultores orgânicos do MST na Feira da Ponta Norte, em Brasília. Foto: Fernanda Ghazali
A ideia de CSA se popularizou no Brasil através do agrônomo brasileiro Richard Charity, nos anos 90. Desde então, pessoas de todo o país vem adotando esse modelo trocando a cultura do preço pela cultura do apreço.
De acordo com a Rede CSA Brasília, em 2020 o Distrito Federal já contava com 35 CSAs.
Fonte: Rede CSA Brasília.
“A CSA é muito importante na vida da minha família. A minha CSA é a minha estrutura, a gente vive em família. É só alegria”, diz Tânia Aguiar
Assentamento Canaã. Foto: Tânia Aguiar/Divulgação
As redes sociais tiveram um papel importante na divulgação da CSA, com a ajuda de influencers para atrair famílias a participarem do programa.
Hoje, com 39 co-agricultores, e entregando cestas grandes e pequenas, a comunidade é a maior fonte de renda de Tânia e sua família.
“A gente precisa de qualidade de vida e a CSA permite uma vida mais digna para a família da gente. Mas a gente também vê a questão de estar ajudando a cuidar das famílias, da alimentação das pessoas e da natureza”.
Além da retirada das cestas, que acontece aos sábados no estacionamento 13 Parque da Cidade, a CSA Paulo Freire também está presente na Feira da Ponta Norte, localizada na quadra 216 da Asa Norte, e realiza entregas pelo programa social PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) criado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) que incentiva a agricultura familiar ao comprar os alimentos dos agricultores e doar para pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional.
Mulheres do Cerrado
A trabalhadora Ivanildes Sousa, de 57 anos, também é agricultora orgânica e cuida de toda a sua parcela sozinha. Mulher maranhense, nunca desistiu de lutar pela terra mesmo enfrentando as dificuldades do acampamento.
Quando chegou ao acampamento em 2011, Ivanildes não sabia trabalhar na roça, mas depois de muita dedicação acabou gostando e hoje não trocaria seu trabalho por outro.
“Eu nunca pensei em fazer o que faço hoje. Eu faço canteiro, capino, planto… Faço de tudo. Prefiro viver essa vida do que ter que levantar de manhã cedo e pegar um ônibus lotado para trabalhar”.
Sua rotina consiste em se dedicar a semana inteira à plantação para que então aos sábados seus co-agricultores busquem suas cestas da CSA “Mulheres do Cerrado” no ponto de convivência na Feira da Ponta Norte, onde também vende seus produtos.
Assim como Tânia, Ivanildes também vende seus alimentos ao PAA, programa que vem ajudando famílias do Canaã.
“Se fosse para voltar no tempo, eu escolheria não trabalhar com veneno de novo, porque é muito gratificante levar a produção para a cidade e saber que contribuo na preservação do meio ambiente e para a alimentação saudável”.
Ivanildes cuida de sua plantação sozinha no Pré-Assentamento Canaã. Foto: Fernanda Ghazali
Capacitação
Projetos destinados ao assentamento foram importantes para a capacitação dos novos agricultores. O WWF-Brasil foi um dos principais agentes transformadores na vida de pessoas como Tânia e Ivanildes.
O agrônomo Abílio Vinícius Pereira, analista de conservação do WWF-Brasil, participou do Programa Água Brasil (2016-2019), iniciativa que busca restaurar áreas de bacias hidrográficas, como a bacia do Descoberto (DF).
A parceria entre o Banco do Brasil, o WWF-Brasil, a Agência Nacional de Águas e a Fundação Banco do Brasil proporcionou a Tânia, Ivanildes e tantos outros agricultores do Canaã um maior conhecimento sobre o meio ambiente e a criação de várias CSAs.
“A gente acha que produzir em parceria com o meio ambiente é a parte mais difícil, mas após as capacitações nós vemos que na verdade essa é a mais fácil. O desafio maior é comercializar, e a CSA vem para tirar o agricultor da mão do atravessador e é um processo onde todo mundo ganha”, comenta Vinícius.
Confira vídeo
Por Fernanda Ghazali e Maria Eduarda Oliveira
Sob supervisão do professor Luiz Claudio Ferreira