Em agosto de 2024, 58% do território nacional foi afetado pela seca no ano. O cenário de escassez e calor extremo castigou o País, incluindo o Distrito Federal, que registrou 167 dias de seca, um número histórico para a capital.
Quando ampliado para o cenário nacional, o Brasil enfrentou a pior estiagem já registrada nos últimos 75 anos.
Ao lado das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul e a seca histórica, o cenário também se demonstrou alarmante com os impactos das queimadas em território nacional, incluindo no Pantanal, como na imagem abaixo.
No dia 12 de setembro, cerca de 60% do Brasil esteve coberto pela fumaça das chamas que atingiram a Amazônia, o cerrado e o pantanal. O céu coberto por fuligem pode ser observado até mesmo nas capitais da Argentina e do Uruguai.
A Sala de Situação da Amazônia, uma ferramenta desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelou que o Pará foi o estado que mais registrou queimadas no mês de setembro, com cerca de 13 mil focos. Desses incêndios, 47% ocorreram em áreas protegidas ou não destinadas, que correspondem a Terras Indígenas, Unidades de Conservação, Áreas de Proteção Ambiental, Florestas Públicas Não Destinadas e polígonos sem situação fundiária definida.
Uma pesquisa do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), também revelou que a degradação florestal na Amazônia em 2024 foi a maior dos últimos 15 anos. Mais de 26 mil km² do bioma foram degradados, o equivalente a quase todo o território do estado de Alagoas.
O luto ambiental e a ansiedade climática
Enquanto o planeta se aquece e os eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes, o Brasil se encontra no centro de uma crise ambiental e humanitária que luta pela ação imediata. Essa realidade afeta a biodiversidade, compromete infraestruturas de transporte e energia, agrava a poluição do ar e expõe a população aos impactos de queimadas e incêndios florestais.
No dia 17 de setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, encontraram-se com os presidentes da Câmara, Arthur Lira, do Senado, Rodrigo Pacheco, e com o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, para propor novas medidas para o enfrentamento à emergência climática.
Na ocasião, o governo publicou uma medida provisória (MP) para abrir crédito extraordinário de R$ 514 milhões para o fortalecimento das ações de enfrentamento aos incêndios e o monitoramento das queimadas. A medida já está em vigor e será destinada a sete pastas. Dessa forma, a proposta é que os ministérios atuem diretamente para conter os danos aos biomas e apoiar a população afetada.
Ainda que haja esforços do governo, a degradação ambiental extrema custou um valor exorbitante e irrecuperável; a perda da fauna nativa. Em meio ao cenário devastador dos incêndios que atingiram biomas e afetaram as populações locais, espécies também lutam diariamente pela sobrevivência.
Segundo dados divulgados pelo boletim do Ministério do Meio Ambiente (MMA), nos meses de julho a agosto, 564 animais silvestres foram resgatados em focos de incêndio no pantanal. No entanto, esse número é pequeno diante das estimativas de mortalidade: apenas em 2020, cerca de 17 milhões de vertebrados morreram no bioma.
A onça-pintada “Gaia”, foi um dos animais monitorados pela Organização Não-Governamental Onçafari, que infelizmente entrou para esta estimativa. O anúncio da morte de Gaia foi realizado através da rede social da ONG no dia 9 de agosto. O felino era monitorado desde maio de 2013 e gerou quatro filhotes.
No dia 18 de setembro, o resgate de um jovem macho de anta também repercutiu nas redes sociais e sensibilizou o Brasil. O animal foi encontrado no Parque Nacional, em Brasília, com as quatro patas feridas e resgatado pela equipe de brigadistas do ICMBIO.
Em entrevista à Agência de Notícias CEUB, a Diretora do Hospital Veterinário do Zoológico de Brasília, Tânia Borges, conta que o animal chegou a apresentar uma melhora significativa e foi introduzido ao tratamento com a pele de tilápia para a cicatrização das queimaduras.
“A equipe de biólogos, veterinários, tratadores e zootecnistas fez os curativos nas patas e introduziu a medicação para a dor. Além das queimaduras, o animal estava desidratado e desnutrido”, ressalta.
A diretora explica que a anta recuperou 2kg nas primeiras semanas de internação e chegou a sair do quadro de desnutrição, mas após um mês de cuidados com a equipe especializada, o macho não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 18 de outubro.
Em nota, o zoológico lamentou a perda e afirmou que a morte da anta serve como um alerta para as ameaças que a fauna enfrenta, como as queimadas e a fragmentação de habitats.
É neste cenário que o Brasil, juntamente com as nações amazônicas, pretende destacar durante a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) o papel das florestas no combate à emergência climática e alcançar a posição de liderança do Sul global na nova geopolítica do clima.
Para isso, o governo federal apresentou a nova meta climática para 2035 na COP 29, em Baku, capital do Azerbaijão. A medida é ambiciosa e propõe que o país deve chegar a 2035 emitindo entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de CO₂. Esta estimativa significa um corte entre 59% e 67% até 2035, em comparação aos níveis de 2005.
O documento também sinaliza o fim dos combustíveis fósseis e o desmatamento zero. A partir de agora, a medida desafiadora será peça-chave para mudar o panorama atual e fomentar o combate à emergência climática que afeta diretamente o Brasil e o planeta.
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Por Lorena Rodrigues
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira