A região administrativa da Fercal, a 25 quilômetros do centro de Brasília, concentra 24 áreas de risco que preocupam a Defesa Civil do Distrito Federal. A principal atenção ocorre pelas possibilidades de deslizamento de encostas. Segundo contabiliza a própria administração, existem mais de 300 casas na comunidade em situação de vulnerabilidade. “Na beirada da rodovia, há grande risco. Já até caiu carro aqui. Quando falamos de áreas de risco, acho essa a pior”, conta a moradora e membro do conselho comunitário da região Andreia Ferreira, 39. O geólogo José Elói Guimarães acredita que a estabilidade desses riscos seria por meio de estruturas de controle. “Muros de arrimo ajudariam a conter a situação da região, mas só se construído de forma correta”. Os muros nas áreas de morros estabilizariam as áreas instáveis.
Para o geólogo Aldo Paviani, o que acontece na Fercal é a retirada desequilibrada da vegetação, que é o que segura o solo. Por conta da expansão populacional (1,99% desde 2013, segundo dados da Codeplan) e formação geográfica da região, há uma tendência de ocupação de morros, locais que sem a vegetação nativa ficam suscetíveis a deslizamentos e desmoronamentos. “O grande problema em Brasília é que você não faz nenhuma obra sem retirar a flora. O Cerrado precisa ser mantido, e uma grande campanha de árvores devem ser feita pra você conseguir proteger o solo”, afirma o especialista.
Emergencial
O Administrador da região da Fercal, Estevão Reis, lamenta que tenha havido construção de 300 casas na comunidade em situação de risco.Caso ocorra algum problema com as residências e outras edificações, a Defesa Civil entra em estado emergencial para conter a situação. “Aqui ano passado aconteceu um vendaval que destelhou várias casas. A equipe de governo fez um plano emergencial para socorrer as famílias com telhas e cestas básicas”, diz Estevão Reis
A Defesa Civil mapeou, entre as vulnerabilidades existentes, a declividade, os problemas na qualidade das construções, a dificuldade na coleta de esgoto e na drenagem da água.
O presidente da Associação dos moradores da Fercal Oeste,Vanderli Alarcão, de 60 anos, indica que a comunidade precisa ser mais bem informada sobre os riscos. “As pessoas me procuram e eu falo para terem paciência. Eu acredito que a comunidade deve ser mais comunicada nesses casos. As principais queixas dos moradores são sobre a falta de iluminação, sobre a água e segurança”, afirma.
Poluição do ar
O geógrafo Aldo Paviani, diretor de estudos urbanos e ambientais da companhia de planejamento do DF, explica que na Fercal, vegetação foi retirada e o solo ficou descoberto. “Pode deslizar. Há habitações em morros no estilo do Rio de Janeiro. Essas casas precisam ser retiradas das encostas”. Outra preocupação do especialista em relação à região é a poluição do ar. “Lá tem umas cimenteiras que soltam muita poeira. Uma escola, em certo momento, teve de ser fechada porque as crianças respiravam esse ar poluído com pequenas partículas de cimento”.
Ele explica que o problema é que não deveria ter sido autorizada habitação perto das indústrias. “As empresas chegaram primeiro lá. Agora é um problema sério, porque você não consegue tirar eles de lá”. Paviani diz ser contra a ideia de cidades-satélites. “Todas as que existem têm poucos locais para trabalho perto delas. A Fercal até tem, mas as duas coisas são incompatíveis”
Por Beatriz Castilho
