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Entre o lixo e o concreto, nasceu a Horta Girassol, um refúgio verde em Morro Azul, na periferia de São Sebastião (DF). O antigo aterro sanitário da Quadra 12 é hoje um pequeno oásis sustentável que garante renda, educação ambiental e segurança alimentar aos moradores.
Nessa reportagem, você encontra:
- Depois de surto de hantavirose, surge a Horta Girassol em um antigo lixão, sob a liderança de Hosana Alves do Nascimento.
- A horta garante segurança alimentar, educação ambiental e renda para os moradores do Morro Azul, em São Sebastião (DF), oferecendo mais de 37 espécies de hortaliças e frutas a preço de custo ou de graça.
- Desafios e conquistas da Horta Girassol: regularização fundiária, apoio público e emendas parlamentares, preservação de nascentes, áreas de proteção e conservação do solo em meio urbano, superação da falta de recursos frequentes por meio de doações e parcerias.
A iniciativa partiu das mãos da líder comunitária Hosana Alves do Nascimento, de 51 anos. Ela é a co-fundadora e coordenadora da horta desde a criação, em 2005, quando abandonou a profissão de doméstica para gerir a terra e mudar a realidade local.
Do hebraico Hoshi’ah nna, Hosana significa “salve-nos”.
Para entender o impacto da horta aos residentes, é necessário voltar quase vinte anos no tempo. Entre 2004 e 2005, o bairro do Morro Azul sofreu um surto de hantavirose proliferado por um lixão localizado na quadra 12. A doença é transmitida por roedores infectados com o vírus, a contaminação é realizada por vias aéreas e a taxa de letalidade da doença é de quase 50%. Após as 10 mortes, a revolta foi tamanha que os moradores fizeram do antigo lixão a maior horta orgânica do Distrito Federal, com 1 hectare (10 mil m²), o equivalente a um campo de futebol.
Confira abaixo onde fica a horta:
A coordenadora lamenta que foi só com as mortes para que uma mobilização ocorresse e o cenário fosse transformado. “Perdemos uma vizinha por causa da doença. Aí começamos um trabalho de limpeza junto com a administração da época e ver o que ia tratar”, comenta. Ela reconhece que o progresso só foi possível após anos na luta por reconhecimento.
Resistência comunitária
Para a coordenadora, foi uma grande vitória. “Sem documento, a gente não consegue recurso público, não consegue emenda parlamentar, não consegue trabalhar com nada”, desabafa. Mesmo assim, o apoio, segundo ela, nunca faltou por quem sempre acreditou no projeto, e o espaço continuou destinado a atender a população. “A gente não tem recursos frequentes. A gente vive de doação e de algumas emendas parlamentares”, frisa.
O projeto, além de tudo, garantiu a permanência dos moradores no bairro. “A horta é tão importante que foi ela quem segurou a gente aqui no bairro. Estávamos para ser retirados e, na época, em 2009, a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) viu que a comunidade estava cuidando do local, aí achou bom não mexer”, conta Hosana, ao relembrar que a comunidade quase deixou de existir.
Em 2009, o GDF fez a revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT), que segue como vigente até os dias de hoje. O instrumento define a política territorial e regula a expansão urbana e rural de todo o DF. Segundo a coordenadora, a comunidade foi avisada que deixaria de existir antes mesmo do plano ter sido realizado.
“A gente já fazia o trabalho na horta e, em 2009, a gente conseguiu provar para o governo que estávamos cuidando da área. Então, o governo fez um acordo com a gente, na época, para a gente continuar no local. Quando eles vieram fazer a visita, eles viram o trabalho ambiental que a gente estava fazendo, e foi o que segurou a gente. Nossa maior conquista foi nossas próprias casas, a horta beneficiou a gente ficar”, orgulha-se.
O relato da moradora da região Anaiza Nunes, 48 anos, que trabalha como operadora de caixa, corrobora com o que foi dito pela co-fundadora.
“Isso aqui era um lixão antes, era um espaço destinado para o lixo mesmo. As pessoas jogavam lixo aqui. Depois que foi transformado em pequenos canteiros foi que a gente conseguiu dar um basta no lixão.”
Tempero de infância
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Hosana é nascida em Crateús (CE). Ainda adolescente, em 1986, com 14 anos, veio junto ao pai e um irmão para tentar a vida em Brasília. Os dois irmãos mais novos ficaram aos cuidados da mãe, que poucos anos depois se juntou ao restante da família na capital do país.
Confira abaixo onde fica Crateús:
O primeiro contato com a nova cidade foi de estranheza. Percebeu um lugar totalmente diferente da sua antiga realidade. “Lá no Nordeste, todo mundo tinha um quintal, todo mundo plantava. Por isso, esse projeto da horta me atraiu muito, porque foi uma maneira que eu achei de trazer a comunidade, de compartilhar as coisas, ensinar as pessoas a fazerem troca”, destaca.
De origem humilde, ela conta que herdou da infância o senso de coletividade. “Eu estranhei muito que aqui no DF o povo é muito individualista. Lá, as pessoas são mais humanas, são mais solidárias umas com as outras. Tudo que a gente fazia lá a gente fazia em mutirão, plantava em mutirão.”
Ela também relembra como a horta ajudou a resgatar parte de sua essência, que até então havia ficado em Crateús. “É como se eu estivesse fazendo um trabalho de mim, da minha infância. Porque minha mãe plantava e a gente colhia tudo no nosso quintal: tinha abóbora, feijão, milho, tinha galinha, o porco, tudo no nosso quintal”, complementa.
Mas antes de se engajar no projeto, trabalhou por mais de 10 anos como doméstica para complementar a renda da casa. A horta, portanto, abriu mais uma porta em sua vida. “Eu não tinha nem o fundamental completo. Aí voltei a estudar, fiz o ensino médio e hoje sou técnica em meio ambiente. Fiz vários cursos na área para entender e conhecer o solo. Hoje, só de olhar para a terra eu sei o que ela precisa”, revela.
Atualmente, ela gere o ambiente ao lado de um dos filhos, o Salvador Pires, conhecido como “Júnior”, e a nora. Outro filho cursa agronomia e sua filha estuda medicina veterinária, ambos na UnB.
Ouça abaixo áudio de Hosana sobre a infância:
Trabalho na terrinha
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A Horta Girassol, que em 2018 virou Instituto Girassol, trouxe um pouco da infância vivida por Hosana para os moradores da Quadra 12. O quintal produtivo conta com a produção diversificada de mais de 37 espécies, com foco na fruticultura e na horticultura. Alface, cebolinha, alho poró, pimentão, couve, cheiro-verde, taioba, banana, abóbora, plantas medicinais e criação de pequenos animais estão presentes. Também há a criação de peixes para garantir a proteína de quem recebe a doação.
O trabalho realizado pelos colaboradores tem foco em assegurar comida sempre orgânica. O instituto trabalha a distribuição dos alimentos de três maneiras: a primeira é com base no movimento CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura). Trata-se de um sistema de cotas pelo qual a horta estabelece um preço fixo mensal e generoso para que os moradores recolham cestas semanalmente, conforme a necessidade de cada família. O preço varia entre R$ 100 e R$ 300 por mês.
A outra maneira de distribuição é baseada na venda a preço de custo para o corpo social. Por um valor simbólico de até R$ 2, o morador consegue uma hortaliça orgânica que, no mercado, seria vendida por três vezes o preço. A terceira forma é uma ação voluntária do instituto, que serve os excedentes (sobras) gratuitamente para creches de São Sebastião. “Quando tem bastante fartura, ela tá distribuindo para a comunidade. Às vezes, sobra muita alface e é distribuída para as creches na cidade”, relata Anaiza.
Apesar de garantir segurança alimentar e renda, Hosana lembra que o espaço é limitado. “Um hectare não é o suficiente para atender toda a demanda de alimentação da população de São Sebastião, mas dentro da proposta que a gente tem, de trabalhar a capacitação da educação ambiental, é o suficiente para nós. A gente tem uma cozinha e a ideia é construir um galpão de agricultura familiar para ser o ponto de apoio da agricultura familiar”, revela.
Transição ecológica
O Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) mapeou e caracterizou, em 2023, as áreas de agricultura urbana e periurbana do DF. A Horta Girassol foi classificada como um Quintal Produtivo, pois tem foco no consumo de comunidades. Ela é de base agroecológica em transição para um Sistema Agroflorestal (SAF). Isso quer dizer que, além do cultivo, o terreno passa a trabalhar com florestas na recuperação de áreas que já foram desmatadas.
Alaíse Silva é técnica da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) e realiza visitas com o objetivo de trazer incremento às práticas agrícolas dos co-agricultores do Girassol. “Se você for olhar aqui ao seu redor agora, nós estamos no meio de uma cidade, cheio de casas, e ela conservou aqui. Temos verde. O ar aqui é diferente”, diz.
A técnica associa o cuidado com a área a um fator econômico para a família e para as pessoas da região. Não é o suficiente para movimentar um grande capital, mas garante subsistência. “É uma forma de renda, de conservação do solo e de uma mina d’água que nós temos aqui. Ela preservou todo o ambiente. Se ela não estivesse aqui, hoje já seria uma cidade totalmente coberta por casas”, completa.
O quintal está inserido numa Área de Proteção Permanente (APP), que conta com três nascentes preservadas pelo instituto. A moradora Anaiza revela que “já tentaram tampar elas ali em cima, mas graças a ajuda da UnB e dos técnicos do Ibram (Instituto Brasília Ambiental), conseguimos preservar as nascentes em cima”. Essa água está em constante movimentação, pois não é represada, ou seja, sem fins comerciais, e garante a umidade e a infiltração do solo.
E em se tratando de solo, a Emater-DF teve um papel fundamental para a capacitação técnica dos produtores. Alaíse explica que as engenheiras agrônomas da empresa ensinam o manejo adequado, com destaque para o adubo e a compostagem correta. Semanalmente, uma técnica da Emater costuma comparecer na horta para auxiliar no que for preciso.
Todo conhecimento adquirido também é passado pelo instituto aos moradores. São oferecidos cursos em diversas etapas: impermeabilização da área, criação de módulos e substratos (composto orgânico nutritivo), adubação, plantio e colheita. A maioria deles são voltados para mulheres e para crianças, e muitos são interdisciplinares. Aulas de jiu-jitsu e capoeira, por exemplo, são realizadas no espaço.
Sem agrotóxicos
A prática da Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) convida as pessoas a consumirem alimentos orgânicos e sem agrotóxicos, que são produtos, normalmente químicos e sintéticos, usados no controle de pragas e insetos em lavouras e plantações. O Brasil se tornou, em 2017, o país que mais consome agrotóxicos no planeta, com cerca de 550 mil toneladas de ingredientes ativos. Esse número, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), representa em torno de 20% de todo o agrotóxico consumido no mundo.
Para se ter ideia, o Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos, publicado em 2018, revelou que, entre 2007 e 2015, o Ministério da Saúde contabilizou mais de 80 mil notificações de intoxicações no Brasil por exposição ao agrotóxico. Em 2019, na contramão do que foi apresentado, a Anvisa (Agência Brasileira de Vigilância Sanitária) alterou as classificações dos agrotóxicos, o que permitiu o registro de 474 produtos químicos no país. Em 2022, houve a homologação recorde de 652 produtos novos.
Os números não param por aí. Em novembro de 2023, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei (PL) 1459, que altera a regulamentação disposta sobre o registro de novos agrotóxicos. O texto, na prática, permite a flexibilização do controle dos produtos no país. Após a aprovação, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou o registro de mais 51 novos agrotóxicos. Ao todo, 2023 fechou o ano com o registro total de 555 novos pesticidas.
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Na visão de Mário Ávila, especialista em agroecologia e coordenador do Centro de Gestão e Inovação da Agricultura Familiar (Cegafi-UnB), os números representam a dependência do agronegócio brasileiro em insumos externos. “Para pensar numa agricultura ecologicamente sustentável, precisamos pensar numa agricultura com baixo uso de insumos químicos”, destaca.
Para o professor, o exagerado consumo de agrotóxicos também é um reflexo do crescimento desenfreado do agro. “Isso é uma decisão política de um conjunto de forças que operam: dos mercados financeiros, das grandes corporações, dos parlamentares, de vários espaços legislativos e executivos, que historicamente vêm destinando parcelas significativas dos nossos tributos para fazer com que o agro seja o que ele é hoje”, acrescenta.
Comida saudável
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Marcia Kosinski é moradora do Jardim Botânico e consome os produtos da Horta Girassol há cerca de um ano. Ela conheceu o instituto por meio de um grupo, do qual participa, que faz compras coletivas em busca de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos. “Já tem muito tempo que sou adepta de uma alimentação mais saudável. Sempre busco alternativas para trazer para minha mesa, para beneficiar minha família com alimentos mais saudáveis”, comenta Marcia, que é arquiteta.
Para além da própria alimentação, ela reconhece o impacto socioambiental desse tipo de hábito. “Projetos que buscam uma vida mais saudável, uma economia social na região, valorizar esse espaço daqui, dar incentivos para pessoas locais e incentivar agricultores que sejam comprometidos com essa proposta é tão urgente para o nosso tempo”, diz ela. E completa: “a gente tá vivendo momentos muito instáveis de emergência climática, então eu acho que o incentivo e as iniciativas de projeto dessa natureza são de extrema importância.”
O professor Ávila alega que não se deve pensar na agricultura a partir da ótica do mercado. “Nós temos primeiro que olhar para a segurança alimentar e para o enfrentamento da fome”, observa. A partir disso, múltiplas conexões, como a ambiental e climática, passam a ganhar protagonismo. O componente primário é trazer para próximo da população marginalizada a oportunidade de produzir comida.
Mudanças de comportamento
A agroecologia é composta por três pilares fundamentais, sendo socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável. Fruto desse processo, a Coopercarajás foi criada. Trata-se de uma cooperativa agrícola que atua como um movimento social de organização de famílias do DF. Ela tem foco em produção urbana, saúde mental e preservação ambiental.
O projeto existe há mais de 20 anos, com aproximadamente seis de existência formal (CNPJ criado), e mais de 200 filiados. A cooperativa é parceira do Instituto Girassol e ajuda a criar canais de distribuição e articulação dos alimentos entre produtores urbanos e rurais da cidade.
O diretor técnico e científico da Coopercarajás, Vicente Almeida, destaca que capacitar novos produtores e instalar a agricultura urbana no DF é um grande desafio. Para ele, há de se enfrentar uma corrente que trata a agricultura como um processo totalmente industrial e mecanizado. “É como se não existisse uma biologia, uma vida em torno dela. Querem reduzir a vida usando agrotóxico, usando sementes transgênicas”, enfatiza.
De acordo com ele, essa outra face do agro enxerga a natureza como um simples espaço a ser “conquistado, devastado e extorquido”. Ao invés de inovar e se adaptar ao ambiente da biodiversidade local, ele reduz e piora a qualidade do alimento. “A gente tem que enfrentar esse conhecimento que quer se impor, muitas vezes pelo dinheiro e pela força da mídia, como aquela propaganda que diz que o agro é tech, o agro é pop, o agro é tudo”, afirma.
A resolução desse atrito, para o diretor, deve ser feita a partir da máxima difusão de conhecimento sobre agricultura urbana e periurbana. Para ele, o mundo exige essa mudança de comportamento ambiental e seria preciso uma transformação para poder continuar num mundo “minimamente saudável.”
“Quando a agricultura urbana chega ela passa a ter uma materialidade, uma concretude. Quem sabe a gente consiga com o agro, com a valorização dos povos quilombolas, indígenas e ribeirinhos, a gente possa resgatar um modo de vida mais saudável e viver para ter uma vida cada vez melhor”
Sistema agroecológico
O crescimento desenfreado das cidades traz consigo a necessidade de aproximar a agricultura ao meio urbano, e a própria população é quem tende a ser mais beneficiada com essa aproximação. Um dos fortes ganhos com as práticas de AUP está na redução da distância de deslocamento da comida do campo até a cidade, o que também diminui a emissão de gases de efeito estufa por veículos automotores.
O Instituto Escolhas realizou um estudo pelo qual analisou os impactos positivos da AUP na Região Metropolitana de São Paulo. Nele, é apontado que o aumento na produção de água, devido a mais áreas de permeabilização do solo, e a provisão de alimentos foram os dois principais pontos positivos da adoção do modelo. Outros benefícios como a mitigação de inundações e de calor, além da maior regulação da erosão, também foram percebidos.
O Instituto Escolhas considera que áreas de 1 hectare, como é o caso da Horta Girassol, são capazes de produzir 400 mil pés de alface por ano. Sistemas agroflorestais consolidados poderiam reduzir as temperaturas em 0,2 graus Celsius em algumas cidades. Práticas adequadas de conservação do solo evitariam a perda de mais de 8 toneladas por hectare de solo ao ano, o que melhoraria abruptamente a qualidade da água para uso doméstico.
O professor Ávila afirma que todo esse potencial oriundo dos sistemas agroecológicos tem a premissa de reverter danos causados pelo acelerado processo de êxodo rural, que ainda deixa mazelas. “A ideia da agricultura urbana tem, obviamente, uma conexão muito grande com os grandes problemas sociais das metrópoles, das grandes cidades”, comenta.
O fator “cidade” é fundamental para esse processo. Para Mario, a presença humana nas cidades é marcada por muita injustiça e dificuldade de acesso a bens naturais, comuns e privados. “Você tem uma parcela significativa da população, que vive nessas grandes cidades, aleijadas de vários fatores de produção, e muitos deles vivendo sob condições subumanas e ultrajantes”, revela. Portanto, a agricultura urbana pode ajudar a população das cidades a caminharem rumo a um desenvolvimento mais sustentável e justo.
Ouça abaixo áudio de Mario Ávila sobre o papel da agricultura urbana:
Futuro Verde
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O primeiro passo para a mudança vem de berço, no entender de Vicente Almeida. “É fundamental que a população não se aliene do seu processo de vivência biológica, que as crianças não fiquem imaginando que o leite só vem da caixinha, que não imaginem que aquela fruta toda encerada, bonitinha e brilhosa é uma fruta natural. A ver como a planta surge, que semente ela dá, que aroma ela tem, que benefícios ela pode nos trazer”.
O pensamento de Hosana também é de preocupação com as futuras gerações. “Uma criança que chega aqui e vem fazer uma visita na horta acha que a cenoura nasce lá na gôndola do mercado. Para mim é uma coisa absurda. Como que uma criança não sabe que a cenoura nasce lá no chão?”, questiona. Na mesma linha, a cearense clama por mais educação ambiental nas escolas, a fim de integrar crianças e garantir um futuro mais verde para elas.
A cada dia que passa, a Horta Girassol provou que está no caminho para reivindicar esse futuro. Em 2019, a horta teve reconhecimento da ONU-Habitat, que a selecionou como um dos projetos da iniciativa Feed Your City (Alimente Sua Cidade, em tradução livre). A mostra destaca iniciativas inspiradoras de produções agrícolas comunitárias em centros urbanos. Ao todo, quatro das sete hortas urbanas selecionadas são brasileiras.
Vicente acredita que quando é possível adquirir uma conexão com a natureza, a partir de uma agricultura urbana, a vida ganha outro significado. “Ela pode nos dar uma percepção muito mais ampla do que nós somos de verdade. Nós somos seres humanos que fazem parte de todo o conjunto dessa vida que é hoje o planeta terra: na água, no mar, na terra… uma gaia”.
Gaia, na mitologia grega, é ninguém menos que a Deusa da Terra. É a geradora de tudo o que existiu, existe e existirá no planeta. Ela representa a vitalidade e a fertilidade. O que já foi lixo e concreto na Quadra 12 tem agora um propósito maior, achado na própria terra, que foi transformada em agricultura. E como diz Hosana, “a agricultura é vida.”
Ouça abaixo o podcast “Raízes da Cidade”: