Índices voltam a subir no território nacional; de janeiro a setembro de 2022, a Amazônia Legal registrou o maior índice de desmatamento dos últimos 15 anos

Crédito: Senado Federal/ Victor Moriyama/Greenpeace
Em 22 de maio de 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Internacional da Biodiversidade para conscientizar a população sobre a importância da preservação da fauna e da flora globais.
Segundo dados da ONU e do Greenpeace, 15% da biodiversidade do planeta encontra-se na Amazônia. Com 30 milhões de espécies de animais e 30 mil espécies de plantas conhecidas, este é o maior bioma do mundo, conforme dados do Instituto Brasileiro de Florestas e do Ministério do Meio Ambiente.
Mas, no ano em que a data completou 30 anos, não há razões para celebrar. Degradação de biomas (como o Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e Pantanal), desmatamento, invasão de terras e genocídio indígena são algumas das notícias que ganharam as manchetes dos jornais ao redor do mundo.
Especialmente no Brasil, os ecossistemas sofrem fortes ameaças. Nos últimos 37 anos, a perda de vegetação nativa ultrapassou 80 milhões de hectares, o que representa 1/3 de todo desmatamento registrado no país durante a história, de acordo com análise do MapBiomas.
Segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Mata Atlântica é o bioma mais degradado do Brasil. Atualmente, apresenta uma área de devastação de aproximadamente 1,13 milhão de km², tendo apenas 12,4% de sua área original.
Não só a Mata Atlântica, mas também outros biomas brasileiros vêm sofrendo com os altos índices de desmatamento nos últimos anos. Somente de janeiro a setembro de 2022, a Amazônia Legal registrou o maior índice de desmatamento dos últimos 15 anos: aproximadamente 11.000 km², conforme aponta o Imazon. O Cerrado também apresentou altos números neste mesmo ano: 5.426,4 km² de devastação, registrado pelo INPE.
A porta-voz do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti, chama atenção para a crise da biodiversidade em curso, mas afirma que, mesmo que as ações do país vão de encontro à proteção dos ecossistemas, já se sabe o que fazer para reverter a situação. “Estamos perdendo espécies da biodiversidade em um ritmo acelerado devido à ações humanas, um exemplo delas é o desmatamento que está em alta na Amazônia. No entanto, com vontade política é possível reverter este quadro”, diz.
Garimpo ilegal
Segundo levantamento do MapBiomas, o garimpo ilegal é um dos responsáveis pelo desmatamento e precisa de atenção. A pesquisa mostra que o garimpo em terras indígenas cresceu 495% de 2010 a 2020. Só nas terras dos Yanomami (que ocupam partes do Amazonas, Roraima e se estende pela fronteira entre Brasil e Venezuela) a destruição consequente dessa prática cresceu 46% de 2020 para 2021.

Crédito: Getty Images
Para Daniel Candido, especialista em Recursos Naturais da Imagem Geossistemas (empresa de soluções inteligentes geográficas) não bastam apenas ações sustentáveis e a redução de gases poluentes. É preciso, também, preservar as terras indígenas, medidas que previnam e combatam o desmatamento, os incêndios e as atividades ilegais.
“Nesse cenário, o investimento em tecnologia geográfica é o mais indicado, por trazer soluções mais rápidas através de sistemas de reflorestamento, monitoramento em tempo real e análises de Big Data”, coloca ele.
Como mostram os frequentes relatórios do INPE e outras instituições, os satélites e radares de calor podem monitorar o desmatamento e as queimadas em lugares como a Amazônia, e oferecer a análise de imagens transmitidas em tempo real, identificando rapidamente alterações no terreno, suas causas e consequências.
Assim, é possível acionar rapidamente o órgão responsável mostrando, por exemplo, a área em que há incêndios florestais ou desmatamento por garimpo ilegal, além de auxiliar o governo na tomada de decisões para a realização de medidas protetivas e preventivas.
Tecnologia é aliada
Segundo a gerente de ciências da WWF Brasil, Mariana Napolitano, mesmo que haja notícias devastadoras sobre o meio ambiente, também houve melhorias nas últimas três décadas.
“Hoje, a partir da instalação de satélites e plataformas digitais, temos informações praticamente em tempo real do que está acontecendo na Amazônia, no Cerrado e em outras regiões. Tudo de forma rápida e ágil”.
Napolitano também destaca a criação de áreas de proteção e reconhecimento de territórios indígenas, principalmente na década de 1990, quando diversas áreas de conservação foram criadas. “Essas extensões são essenciais e fundamentais para combater o desmatamento no bioma”, aponta.
Ela afirma que o combate ao desmatamento demanda uma ação coordenada entre vários departamentos. “Desde o governo federal, estadual e o setor privado. Para ajudar na proteção do meio ambiente, a população deve ter consciência sobre o que consome, de onde vem os produtos e se causam algum tipo de degradação ambiental”.
As perspectivas para os próximos 30 anos não são boas, mas, intensificando as políticas de Estado, conforme argumentou Cristiane Mazzetti, representante do Greenpeace Brasil, é possível melhorar a situação.
Mazzetti afirma que, entre 2004 e 2012, a degradação da maior floresta tropical do planeta caiu 80% após ter sido colocado em prática um plano robusto de combate ao desmatamento com atividades articuladas de fiscalização e criação de áreas protegidas.
“Essas estratégias têm sido ignoradas pela gestão atual, ainda que a ciência alerte para a urgência de ações para conter não só a crise da biodiversidade, mas também do clima, cabe a nós, sociedade, pressionar para que o combate ao desmatamento seja uma política séria e de Estado”, conclui ela.
Diante da gestão ambiental do governo vigente, parte das práticas de combate ao desmatamento devem ser retomadas pelo próximo governo, que reavaliará a situação dos biomas brasileiros e deve implementar novas medidas de enfrentamento. São necessários esforços coletivos para recuperar parte do território verde já perdido.
Por Maria Regina Mouta
Supervisão de Vivaldo de Sousa