Preservação do cerrado incentiva ecoturismo

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Garantir a competitividade do turismo ecológico passa por atitudes sustentáveis nos meios urbanos, diz representante da Embratur

Cachoeiras, água gelada e os sons da natureza: o turismo ecológico no Distrito Federal e no entorno é um roteiro conhecido do brasiliense.

Seja para curtir o Parque Nacional Água Mineral, o Salto do Tororó, ou as trilhas que cortam o território do DF. Todas essas são alternativas ecológicas que exploram o cerrado, mas que estão suscetíveis às mudanças climáticas. Por isso, especialistas alertam para a necessidade de manter o ecoturismo preservado.

O empresário e trilheiro Wendell Ferreira percebe que a poluição e a degradação da natureza prejudicam a experiência dos turistas. Ele ainda é enfático ao dizer que a falta de cuidado prejudica a qualidade das atrações.

“Os aventureiros querem um lugar bonito e conservado para contemplar”, destaca.

Desde março de 2021, Wendell administra a Wendell Roots, agência de turismo que oferece passeios ecológicos e de aventura em trilhas e cachoeiras.

A ideia surgiu após enfrentar um quadro de depressão e recuperar a saúde mental através do contato com a natureza, principalmente com os amigos. Como as atividades ao ar livre fizeram bem, ele decidiu organizar passeios ecológicos para mais pessoas. 

Hoje, aos 44 anos, Wendell acredita que o poder público do DF deve fazer mais pela preservação ambiental das trilhas, cachoeiras e outros passeios ecológicos, como realizar campanhas educativas de apoio aos guias e condutores locais para fazer a multiplicação de boas práticas. 

Ecoturismo competitivo

O gerente de sustentabilidade e ações climáticas da Empresa Brasil de Turismo (Embratur), Saulo Rodrigues, explica que da mesma forma que as riquezas naturais são importantes para o desenvolvimento do turismo ecológico no Brasil, elas também colocam em uma posição de vanguarda diversas iniciativas biosustentáveis.

“O Brasil possui a liderança na produção de combustíveis sustentáveis e na capacidade de sequestro de carbono. Com esse potencial, nos resta tornar nosso ecoturismo mais competitivo com qualificação de mão de obra.”

Estratégias

Para fortalecer a competitividade do ecoturismo nacional, a Embratur estabeleceu um plano em quatro etapas: diminuir emissões de carbono e compensar o que não pode ser reduzido, envolver economicamente as comunidades dependentes do turismo (sociobioeconomia), fazer a gestão sustentável de resíduos sólidos por meio da economia circular e, por fim, a resiliência climática, que significa aumentar a resistência aos eventos climáticos extremos por meio da boa conservação da natureza.

Além disso, é necessário uma conscientização do próprio visitante para garantir o bom uso e a preservação das atrações. “ É possível colaborar para a preservação de muitas maneiras, como não vandalizar o local, ajudar com o recolhimento de lixo que algumas pessoas deixam, não alimentar os animais e nem fazer coletas de plantas”, orienta Wendell.

Incêndios e desmatamento

Riscos

O Distrito Federal registrou 179 queimadas em vegetação de cerrado apenas em um ano, de setembro de 2022 até o mesmo mês de 2023.

Os dados constam na plataforma Terra Brasilis, do Inep, que é um monitoramento feito por satélite e que mostra o desmatamento e o número de queimadas não só no cerrado, mas também na Amazônia.

Dos 179 incêndios identificados no DF, o mês com maior ocorrências foi setembro de 2022, com 85 casos. Quarenta deles ocorreram em regiões de vegetaçãoprimária. 

Em relação ao desmatamento, o DF soma desde 2001 um total de 375,5 km² de área desmatada, com destaque para os anos de 2003 e 2004, com 82,4 km² cada, os dois maiores totais da série histórica. O último ano registrado foi o de 2022, com 5,6 km².

A plataforma não só monitora a quantidade de ocorrências, mas também o tipo de território, se ele é ou não registrado no Cadastro Ambiental Rural (CAR) do Serviço Florestal Brasileiro.

No DF, 72 dos focos registrados atingiram imóveis rurais considerados grandes, 57 em minifúndios, 19 em imóveis pequenos e 23 em médios. Propriedades sem CAR acumularam oito registros.

Já em relação ao CAR, 72 dos focos registrados atingiram imóveis rurais considerados grandes, 57 em minifúndios, 19 em imóveis pequenos e 23 em médios. Propriedades sem CAR acumularam oito registros.

Preservação de nascentes

Para Saulo Rodrigues, a preservação do cerrado é desafiadora, porque possui taxas de desmatamento legal superiores aos outros biomas, devido à expansão da fronteira agrícola. “ De acordo com o Código Florestal, 70% da área das propriedades rurais pode ser desmatada. Ou seja, todo esse desmatamento ocorre de forma legal.” 

Além disso, ele explica que no Planalto Central não há rios de grandes volumes para abastecimento da população, porém existe a responsabilidade de preservar as nascentes de duas importantes bacias hidrográficas que se estendem pelo Brasil e América Latina: a unidade de conservação Águas Emendadas, que reúne as nascentes das bacias do Tocantins/Araguaia e Platina.

Em 2022, Saulo participou de um trabalho de análise de risco climático para o Governo do Distrito Federal (GDF). Neste estudo realizado com a metodologia do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a conclusão obtida é que o DF está vulnerável às crises hídricas. 

Águas das chuvas

Para reduzir os impactos que a falta de abastecimento de água pode causar, Saulo sugere a captação de água das chuvas para ser utilizada nos períodos de estiagem, no intuito de poupar o uso dos reservatórios. “Usos como irrigação de jardins e lavagem de carros e infraestruturas não necessitam de água tratada pela Caesb. A água da chuva pode ser usada sem problema”, sugere Saulo.

Outra opção é a arborização urbana, em especial das regiões periféricas, pensada para mitigar os efeitos de ondas de calor intensas, para assim suportar períodos de temperatura elevada. Essa relevância que o cerrado tem para o ciclo hidrológico, desde o regime de chuvas até a disponibilidade da água, significa que o Distrito Federal tem uma responsabilidade na preservação das águas e, para isso, é necessário cuidados específicos, tanto no meio rural quanto urbano.

Por Vinícius Pinelli

Supervisão de Isa Stacciarini

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