Acesso liberado. Pronto, em um simples olhar rápido para uma tela tecnológica, você tem o acesso à sua vida particular autorizado.
A biometria facial é uma tecnologia que utiliza características únicas do rosto de uma pessoa para identificá-la, como a distância entre os olhos, o formato das maçãs do rosto e o contorno dos lábios.
Mas será que é seguro confiar tanta privacidade e segurança a uma máquina?
De acordo com o relatório “Radar Tecnológico”, publicado pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), as tecnologias de biometria facial são usadas em diversas áreas, como controle de fronteiras, segurança pública, saúde, transações financeiras, marketing e controle de acesso.
Elas envolvem técnicas de detecção (localizar rostos), identificação (quem é a pessoa?), verificação (confirmação de cadastro) e classificação (atribuição de características como gênero, idade ou emoções).
Riscos
Apesar da praticidade que a tecnologia facial oferece, os riscos também existem. Com o avanço do uso de máquinas de reconhecimento facial em condomínios, academias, aplicativos e outros ambientes, a ameaça de roubo de identidade tem crescido proporcionalmente.
Em entrevista, o especialista em plataformas de inteligência artificial e coordenador de pós-graduação do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Fábio Oliveira, explicou quais são as falhas mais comuns nos sistemas de biometria facial.
“A iluminação inadequada pode acabar dificultando a verificação, assim como o ângulo da câmera e a baixa resolução da imagem. Além disso, mudanças faciais, como idade, barba, maquiagem e o uso de óculos.”
Ele também afirma que selfies publicadas nas redes sociais podem, sim, ser usadas para burlar a segurança. “Fotos públicas podem ser usadas para treinar modelos para deepfake, muito populares para celebridades como o Trump e o Elon Musk”, explica.
O especialista ressalta que, apesar das falhas existentes nos dispositivos de biometria facial, estudos já estão em andamento com o objetivo de corrigi-las e melhorar a confiabilidade dos sistemas de reconhecimento facial.
Processo para a verificação
O relatório da ANPD ainda destaca que a autorização e verificação de imagem ocorrem através da conversão e junção das características de cada indivíduo, que são transformadas em um “código facial”.
Quanto maior for a quantidade de características capturadas do indivíduo, menor a margem de erro e de possíveis fraudes.
O documento ressalta que existem situações em que há a possibilidade de duas pessoas ou mais gerarem características semelhantes, fazendo com que a máquina detecte um falso positivo, abrindo margem para erros e fraudes.
Segurança da tecnologia
Fábio explica que, em casos de dados faciais vazados de um banco de dados, como de uma empresa ou governo, não há a possibilidade de trocar facilmente essa identidade facial.
“Não é possível trocar o rosto como se troca uma senha. Vazamentos de dados biométricos são considerados irreversíveis. A ANPD alerta que isso pode comprometer permanentemente a identidade digital de uma pessoa”, destaca.
Ele ainda sugere possíveis formas de aumentar a segurança da tecnologia.
“Seria necessário implementar alguma camada extra, como o segundo fator de autenticação baseado em impressão digital ou outra biometria.”
Responsabilidades
Em casos de vazamento de dados, falhas no processo de segurança ou compartilhamento indevido de credenciais, o profissional explica que a responsabilidade vai depender do motivo da falha.
“Pode ser compartilhada, mas tende a recair sobre a instituição que implementou a tecnologia, se não houver medidas de mitigação adequadas. O desenvolvedor, caso o sistema apresente falhas técnicas ou vieses não corrigidos. O usuário, apenas se houver negligência explícita”, diz.
Biometria facial para o futuro
O relatório da DPU também revela que o uso de biometria facial tem se expandido rapidamente no Brasil nos últimos anos. Atualmente, existem 337 projetos ativos de reconhecimento facial para fins de segurança pública no país, e aproximadamente 81 milhões de brasileiros, cerca de 39,9% da população, estão potencialmente sob vigilância por câmeras de reconhecimento facial na segurança pública.
Para o especialista em plataformas de IA, a biometria facial continuará sendo utilizada no futuro.
“A biometria facial ainda será viável, mas com os devidos ajustes de segurança normais do avanço tecnológico, como o uso em conjunto com outros fatores de autenticação”.
Por Aline Miranda e Laís Tenório
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira