Antes de suspenso, especialistas destacaram problemas com o Novo Ensino Médio; entenda divergências

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Antes do governo federal anunciar suspensão sobre as atividades relativas ao que foi chamado de “Novo Ensino Médio”, profissionais da educação e também alunos mostraram divergências com o que havia sido determinado no ano de 2018.

“Educação não é mercadoria”. A diretora do Sindicato dos professores de escolas públicas no Distrito Federal (SINPRO), Luciana Custódio, lamenta que existam diferenças entre a aplicação do novo ensino médio na rede pública e e rede privada. O sindicato entende que interesse econômico foi determinante para a implementação do Novo Ensino Médio.

As regras começaram a ser aplicadas em 2022 e apresenta uma proposta educacional por meio de itinerários formativos, que são conjunto de disciplinas, projetos e oficinas, em que o aluno poderá escolher. A grade de matérias fica a cargo do aluno e da disponibilidade da instituição.

Preparação de professores

De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Professores de Escola Particular (Sinproep), Trajano Jardim, os educadores não tiveram preparação para essa nova mudança do ensino e foram pegos de surpresa.

“O governo fez de forma apressada e não pensou em nenhuma forma de capacitação”, afirmou Trajano Jardim

Trajano explica que em muitas escolas particulares a capacitação para o novo ensino médio fica a cargo do próprio professor, que precisa financiar sua própria qualificação a fim de atender os requisitos do novo modelo.

Luciana Custódio também salienta uma deficiência na base estrutural dos docentes para outras áreas do conhecimento, o que deixa os outros conteúdos à margem, sem valorização igualitária das matérias.

“A reforma cria uma hierarquia entre as disciplinas”, disse a especialista.

Alunos

O modelo, que está em vigor desde o ano passado, mescla grupos de matérias em itinerários coletivos. Física, química e biologia viraram ciências da natureza; sociologia, filosofia, geografia e história viraram ciências humanas e suas tecnologias; língua portuguesa, artes e educação física viraram linguagens, códigos e suas tecnologias e matemática foi a única que permaneceu.

Além das matérias obrigatórias, os alunos podem optar por aulas eletivas que consistem em matérias de aprofundamento opcionais de acordo com a afinidade do estudante. Estas são ofertadas dependendo da disponibilidade da escola.

Nas escolas privadas do Distrito Federal, a rotina dos estudantes conta com muito mais do que o estipulado pelo MEC.

Além das aulas dos itinerários formativos, as eletivas de algumas instituições particulares contam com visitas esporádicas em campus de ensino superior, matérias de aprofundamento para os principais vestibulares e aulas com o conteúdo que já era aplicado antes da reforma.

Decepção

Nas escolas públicas, os alunos reclamam de falta de vagas para as eletivas escolhidas, forçando-os a escolher eletivas que não se relacionam com o curso superior que querem no futuro. Denunciam também a falta de professores especializados.

“Tem professor de filosofia dando matérias de literatura”, explica Gustavo André, estudante de ensino médio em uma escola pública.

Gustavo, que almeja seguir a carreira na área de TI, afirma também a pouca especialização das eletivas oferecidas pela escola. O estudante acredita que as matérias específicas não o preparam para sua formação superior futura.

Os alunos da rede pública ressaltam a falta de ânimo dos professores e a alta nas abstenções dos docentes, “Às vezes os professores faltam muito e parece que a escola não dá muita importância”,diz o estudante secundarista.

Nova decisão

O governo do atual presidente Lula anunciou nesta última segunda-feira (3), que deve suspender a aplicação do novo ensino médio devido à repercussão negativa do último mês.

O Ministro da educação Camilo Santana diz avaliar a possibilidade de suspensão. A decisão será tomada após a discussão do grupo de trabalho instituído pelo Ministério da Educação em até 90 dias.

Por Juliana Sousa, Maria Beatriz Giusti e Nathália Maciel
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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