Cerrado foi bioma que mais sofreu em 2023, aponta relatório do desmatamento

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“Maior radiografia sobre o desmatamento não só no Brasil, mas no mundo”, diz coordenador geral do MAP Biomas

O Cerrado foi o bioma mais desmatado, no ano passado, e ultrapassou a Amazônia pela primeira vez na história. Os dados são do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, relativo ao ano passado.

Em Três Marias (MG), desmatamento de área para substituição por eucalipto, que se transforma em carvão. Foto: João Canizares/Agência Pública

A área desmatada do bioma totalizou 1.110.326 hectares (ha) e aumento de 67,7%, segundo o MapBiomas, em evento aberto, realizado no centro de Brasília. A plataforma cooperativa trouxe autoridades e especialistas da área para comentar os dados do quinto ano de raio-x sobre o desmatamento.

No documento, a justificativa apontada para isso ocorreu por três razões: o aumento do desmatamento, o aperfeiçoamento dos sistemas e a integração de uma nova fonte de detecção (SAD Cerrado/IPAM).

Entre os painéis, destacaram-se as presenças de representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com Rodrigo Agostinho; Secretaria Extraordinária do MMA, representada pelo André Lima; Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, com Fernando Sampaio; INPE, na presença de Claudio Almeida.

Fonte: MapBioma

Amazônia

O bioma Amazônia apresentou uma redução de 62,2%, mas somada ao Cerrado, os dois representam mais 85% das áreas desmatadas no Brasil. Isso significa uma perda de vegetação nativa em 8.558.237 hectares nos últimos 5 anos. O dado equivale a 2x a área do estado do Rio de Janeiro.

Imagem aérea de queimada próximo a Floresta Nacional do Jacunda, em Rondônia. 07 de agosto de 2020. Foto Bruno Kelly/Wikipedia Commons

Outra mudança inédita observada no ano de 2023 foi o predomínio de desmatamento em formações savânicas (54,8%). Seguido das formações florestais (38,5%), que fazem parte do imaginário comumente associado ao desmatamento.

Agro

Marcos Rosa, do MapBiomas, explicou a metodologia de levantamento e apontou para a identificação dos ‘vetores de pressão para o desmatamento’. Nele, a conclusão é que a agropecuária responde por mais de 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos cinco anos.

Pontos laranjas no mapa representam os casos com vetores na agropecuária. Fonte: MapBiomas

Sobre o Cerrado, a concentração de áreas desmatadas é mais intensa no Matopiba (acrônimo dos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Em 2023, 47% da perda da vegetação nativa ocorreu nesta região, que soma 858.952 hectares, representando um aumento de 59% em relação ao ano anterior.

Segundo o relatório, com exceção do Piauí, São Paulo e Paraná, os estados que fazem parte do bioma Cerrado registraram aumento do desmatamento em 2023.

Maranhão, desmatamento em curso

“Se o Maranhão fosse um país, seria o segundo país com a maior taxa de desmatamento no mundo”

Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas

O Maranhão saiu da quinta posição para a primeira entre os estados mais desmatados, com um aumento de 95,1%. Isso dá uma perda total de 331.225 ha de vegetação nativa. Acompanhado em segundo lugar pela Bahia, com 290.606 ha desmatados (quarta posição em 2022). E em terceiro lugar, o estado do Tocantins, que apresentou uma área desmatada de 230.253 ha (nona posição em 2022).

Mapa do Brasil com destaque para as bacias e o bioma Cerrado. Fonte: IPAM

A Bacia hidrográfica Tocantins-Araguaia foi a mais desmatada em 2023, passando de 400 mil hectares destruídos, o que revela um aumento de 48,5% em relação ao ano anterior.

Um destaque do documento apresentado é que mais de 93% da área desmatada no Brasil em 2023 teve pelo menos um indício de ilegalidade. Nos anos contemplados pela pesquisa, o Brasil perdeu 1.215.096 hectares de vegetação nativa dentro de áreas de Reserva Legal (RL).

Ilegalidade

Especificamente sobre o Cerrado, o crescimento da ilegalidade acompanhou também sua nova posição, apontando a perda de 136.368 ha da vegetação nativa em RLs do bioma em um ano (136% de aumento).

O secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente, André Lima, diz que há preocupação com projetos de lei como o que prevê a redução de reserva ambiental na Amazônia, mas avalia que há grupos de parlamentares no Congresso Nacional resistentes a pautas desse tipo.

Os aspectos positivos do levantamento são de que 1050 municípios não tiveram desmatamentos de 2019 a 2023, representando 19% do total. E que em 2023, o desmatamento no Brasil caiu 11,6% em relação ao ano anterior, com o registro de 3.353 alertas publicados pelo MapBiomas e 1.829.597 hectares de área desmatada.

Confira aqui a apresentação do relatório de desmatamento

Por Juliana Weizel e Otávio Mota

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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