Agricultura familiar gera subsistência e renda para trabalhadores rurais no DF

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Foi em 2010, quando o Brasil registrou um crescimento econômico de 7,5%, que Samuel Gomes Pereira, então com 21 anos, decidiu trocar o trabalho de motoboy pelo de produtor agrícola. Após ganhar um pedaço de terra no assentamento Canaã, em Brazlândia (DF), ele passou a se dedicar à produção de hortaliças. A região administrativa agrícola fica a 45 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, onde são definidas as políticas públicas para estimular a agricultura familiar.

Samuel Gomes Pereira, agricultor. 

No DF, a agricultura familiar representa 75% de toda a produção rural, conforme a pesquisa mais recente da Companhia de Desenvolvimento e Planejamento (Codeplan), divulgada em 2019.

Hortaliças e frutas são os principais produtos plantados pelas famílias que trabalham nas áreas rurais da cidade, também responsáveis por fornecer aos moradores da cidade ovos, geleias, conservas e queijos artesanais. No Canaã, por exemplo, 65 famílias plantam no formato agroflorestal. 

“Antigamente, esse assentamento era um monocultivo de eucalipto que existia há mais de 30 anos. Por meio dos projetos de agrofloresta, nós conseguimos a retirada da maioria desses eucaliptos e a região da Bacia do Descoberto, que antes tinha um solo pobre em nutrientes, se tornou uma área de alta absorção destes”, afirma Samuel. 

Assentamento

Oito anos antes e a 75 quilômetros de distância do Canaã, no assentamento Oziel Alves III, em Planaltina, uma outra família apostava na agricultura como forma de sustento para seus filhos.

Robin Mário se debruçou nos cursos profissionalizantes de CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura) e de agrofloresta realizados pela Associação dos Produtores Agroecológicos (Aprospera), enquanto Francisca da Cruz Ribeira, sua esposa, trabalhava como doméstica para complementar a renda da família. 

Robin Mário e Francisca da Cruz Ribeira, agricultores e criadores da CSA Flor de Lótus. 

Em 2017, o casal criou a CSA Flor de Lótus, comunidade que se iniciou com apenas 16 famílias e, atualmente, conta com a participação de mais de 100 co-agricultores que financiam diretamente o agricultor e, em troca, recebem alimentos orgânicos semanalmente.

A partir desse marco, a venda das cestas, que mensalmente somam preços entre R$ 240 e R$ 300, passou a ser a fonte de renda principal da família.  

“Eu acredito que fazer parte de uma CSA, além de ser uma forma de combater a agressividade do sistema que só tem a finalidade de lucrar em cima de produtos cheios de agrotóxicos e de má qualidade, é também valorizar o ambiente e a luta de quem conquistou a terra com o intuito de viver da agricultura”, afirma Mateus Castello Branco, co-agricultor da CSA Flor de Lótus desde 2018. 

Francisca, mais conhecida como Nena, que antes produzia processados (geléias, farinhas e conservas) somente com o intuito de presentear amigos e família, decidiu se profissionalizar na área por meio da Aprospera e atualmente está buscando seu lugar como expositora em eventos e feiras livres.

Assim como Francisca, Armina Félix, agricultora no assentamento 15 de agosto, localizado em São Sebastião, também desfrutou dos cursos oferecidos pela comunidade dentro dos acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para se aperfeiçoar no campo dos processados. 

Feira na Asa Norte

A agricultora conta que, apesar de produzir hortaliças desde 2011, só conseguiu adquirir uma renda fixa 7 anos depois, quando iniciou as vendas de processados derivados do leite em feiras livres.

Atualmente, ela é uma das expositoras na feira da 216 Norte, também conhecida como Feira da Ponta Norte, que é destinada à comercialização de produtos da agricultura familiar e orgânicos. 

A nutricionista Helena Coleta, moradora da 216 Norte, conta que conheceu Armina pelos seus queijos, mas que depois passou a comprar cenoura e couve na barraca dela. Ela explica que há dois anos decidiu introduzir a feira livre como parte de sua rotina, visto que, em decorrência de sua profissão, está sempre em busca de alimentos orgânicos e de qualidade. 

“As feiras ajudam a reduzir a monotonia alimentar, porque muitas vezes têm algum alimento da estação que está com um preço bom ou então é um produto diferente que a gente não costuma encontrar no mercado”, afirma a nutricionista. 

Armina e Samuel, ambos comerciantes na localidade, se conheceram na rotina da feira, mas nem imaginam as dificuldades vividas um pelo outro durante a pandemia da covid-19.

Mireya Valencia, professora no setor de agronomia e medicina veterinária na Universidade de Brasília (UnB), afirma que a agricultura familiar no DF foi muito prejudicada pelas restrições impostas aos restaurantes e feiras livres, que foram fechados para evitar a disseminação da doença. 

No entanto, a professora destaca que “a implementação da sanção da Lei 13.987 teve caráter excepcional durante o período de suspensão das aulas, visto que os alimentos adquiridos com recursos do Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar) que seriam destinados à merenda escolar, foram canalizados aos responsáveis dos estudantes das escolas públicas de educação básica. Dessa forma, os agricultores permaneceram ativos, assim como o canal de comercialização”. 

Durante esse período, Samuel e Armina conseguiram recuperar seus rendimentos a partir do apoio do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e do Pnae. Ambos são políticas públicas criadas pelo governo federal e destinadas à aquisição de alimentos diretamente da agricultura familiar, buscando o fortalecimento dos produtores e garantindo alimentos de qualidade para a população em situação de vulnerabilidade e estudantes da rede pública, respectivamente.

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Por Isadora Carmona (texto e fotos)

Supervisão de Vivaldo de Sousa e Luiz Claudio Ferreira

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