Festival de cinema: preconceito em debate

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Dois homens negros da periferia de Brasília carregam com eles marcas de uma invasão da polícia em um famoso baile black da Ceilândia dos anos oitenta, o Quarentão. Em meio à repressão policial, esses homens são feridos. Um deles fica na cadeira de rodas, e o outro, tem metade de uma perna amputada após ser atropelado pela cavalaria da polícia. Essa história de descriminação é contada no longa metragem do Distrito Federal “Branco sai, preto fica”, exibido e aplaudido de pé pelo público, na noite deste sábado (20), no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

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O filme do diretor, Adirley Queirós, era o mais aguardado da noite pelo público presente. Isso porque o diretor brasiliense é conhecido por mostrar, em seus filmes, histórias da periferia do DF. Morador de Ceilândia, ele aborda temas sociais e territoriais vividos por residentes da cidade, como preconceito e dificuldades.

Para o roteiro, Queiroz ouviu vários depoimentos sobre o baile Quarentão.  As situações eram criadas e a partir daí, o roteiro ganhava forma. Ele explica que as histórias dos personagens são reais e dolorosas, e por isso, sentiam dificuldade em contar de frente pra uma câmera. “Então, eles criaram personagens pra eles mesmos”. O diretor conta que não conseguir dizer coisas diretas criou essa mistura entre o real e a ficção.

Opiniões 

A cineasta Tânia Fontenelle, foi ao festival por conta deste filme e diz que poder ver a parte da cidade que é desconhecida por muitos brasilienses é o que o faz interessante. “Achei a música espetacular e ele faz um jogo com músicos da cidade, os coloca como personagens, mantém o linguajar. É super bacana trazer isso”, conta.

O longa que faz um notável e interessante diálogo entre realidade e ficção traz como atores, os próprios personagens. O diretor conta que isso tomou forma, porque estes homens queriam contar sua história, porém não se sentiam confortáveis no formato de depoimento. A partir daí, ele conta, surgiu a forma de diálogo utilizado. A história se intercala entre cenas vividas, depoimentos pessoais e o futuro projetado pela ficção da história. “Essa ideia de realidade vem dos personagens trazerem a memória deles para o filme, mesmo cientes de que estão atuando para a câmera”, conta.

Um importante aspecto do filme e que despertou grande interesse no público foi a relação Brasília x cidade-satélite. No longa, para entrar em Brasília é preciso ter um passaporte. Ardiley explica que quis mostrar a questão da divisão territorial. Ele diz que moradores das periferias não são bem-vindos no cotidiano do centro.

 Nua por dentro do couro

A relação de vizinhos que moram em um mesmo condomínio habitacional, mas não interagem diretamente é o tema do curta Nua por dentro do couro. O filme apresenta duas persongens principais. Carmem, que é solitária e aparenta esconder um passado sombrio, é misteriosa e excluída do convívio social. E Monique é uma garota que descobre ser portadora do vírus HIV após sofrer uma infecção no olho esquerdo. Para disfarçar as marcas deixadas pela cirugia feita no olho, ela usa um desenho em formato de olho no rosto.

O curta de 21 minutos, do maranhense e estudante de cinema, Lucas Sá, também exibido nesta quarta (20), foi gravado em Pelotas (RS), local onde atualmente reside o diretor, em locais pequenos da cidade como supemercado e apartamentos. A ideia do filme se passar dentro de um condomínio, segundo ele, é mostrar a cada vez mais distante relação entre vizinhos “As pessoas que moram dentro dele se relacionam de formas estranhas, escondendo segredos obscuros”, comenta.

O curioso filme que apresenta no início, cenas dramáticas e mais tarde mostra certo humor, para depois assumir o tom de suspense, chega a causar certa confusão no público. O diretor diz que tinha a intenção de despertar dúvidas no expectador.

Por Karla Pereira – Especial para a Agência de Notícias UniCEUB

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