
Foto: Acácio Pinheiro/ Creative Commons
Os representantes dos sindicatos dos professores das escolas públicas (Sinpro), Luciana Custódio, e das escolas particulares (Sinproep), Trajano Jardim, ambos no Distrito Federal (DF), tomaram posições de alerta após ataques em unidades de ensino em outros estados e também dos boatos que circulam nas redes. Eles chamam atenção para um cenário de violência e uma reduzida participação das famílias nos ambientes escolares.
“O que realmente se espera é que sejam estabelecidas políticas públicas de prevenção das situações de violência. A gente está vivendo tragédias anunciadas” .
Em função da tensão, defenderam que deveriam ter seguranças especializados nas instituições.
Como exemplo, as entidades citam os antigos “Cosme e Damião”, a dupla de policiais comuns entre os anos 1980 e 1990.
Os diretores dos sindicatos aproveitaram o posicionamento para se manifestarem que as escolas militarizadas não são a solução para a diminuição dos casos de violência, pois muitos dos policiais dessas instituições não estão preparados adequadamente para lidar com jovens.
“Militarizar as escolas não trará a solução para os problemas de violência, na verdade muitas vezes acontecem mais casos devido ao despreparo desses profissionais que estão disponibilizados para a segurança da escola militarizada. Por que o que eles pegam para separar são aqueles policiais que não estão aptos para o trabalho na rua e colocam em meio aos jovens.”
Nota da diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro), Luciana Custódio
Escolas sem verba
Para a diretora do Sinpro, as causas da violência estão ligadas à falta de políticas públicas. “A violência nas escolas é causada pela falta de investimento do próprio Governo”, aponta Luciana Custódio. Ela acredita que, sem o apoio e a verba destinada à educação, as instituições de ensino não conseguem implementar programas para integrar os estudantes ao coletivo.
Trajano Jardim, vice-presidente do Sindicato dos Professores das Escolas Particulares do Distrito Federal (Sinproep), explica que uma consequência dessa não inclusão é a presença maior do caráter individualista das crianças e adolescentes.
“Alguns especialistas têm chegado à conclusão de que essa questão envolve a própria situação do mundo, que a sociedade se tornou individualista. O coletivo já não importa muito para os indivíduos. Então, cada um acha que o seu ambiente é próprio e não pode ser dividido com os outros.”
Ele acrescenta que a não obrigatoriedade de ensinos como filosofia, sociologia e matérias que promovem o pensamento crítico, reforçaram essas atitudes individuais e a não reflexão sobre o coletivo.
“Como diz o Paulo Freire, é uma educação bancária, que não atenta para que o indivíduo possa ser reconhecido como indivíduo, está apenas cumprindo uma forma de estudo, não leva a que ele possa discutir qual é o seu papel dentro da sociedade. Então ele torna-se presa fácil das ideias violentas.”
Trajano Jardim, do Sindicato dos Professores das Escolas Particulares
Depósito de alunos
Luciana Custódio e Trajano Jardim afirmam que, além de os alunos se tornarem individualistas, os próprios pais contribuem com esse caráter ao acreditarem que as escolas são depósitos de alunos.
“Quando ocorrem, por exemplo, greves dos professores, os pais já ficam desesperados querendo saber onde vão deixar o filho para poderem ir trabalhar naquele dia, sendo essa sua primeira preocupação.”
Desta forma, eles creem ser uma maneira mais fácil e prática de saber onde está o filho durante o período em que estão ausentes, demonstrando um desinteresse com a questão pedagógica do ensino.
Participação dos pais nas escolas
Ambos determinam que a presença dos pais na educação dos filhos, tanto na rede privada quanto na pública, é fundamental para auxiliar no convívio e na integração desses estudantes à comunidade.
Enquanto nas redes públicas de educação faltam programas de integração ao coletivo escolar, na rede privada falta o interesse na participação nas atividades dos filhos. Com isso, os responsáveis ficam restritos às avaliações de desempenho e considerações por parte do docente.
“Você vê hoje que se faz uma reunião de pais e mestres, para poder aproximar mais as famílias da escola, o que a gente chama de sociedade escolar, é como se fosse uma reunião de condomínio, vão quatro ou cinco pais. […] O que acontece hoje, o pai vai e deixa a criança na porta da escola e depois vai buscar, só quer saber quando existe algum problema com o filho, aí vai reclamar do professor, vai reclamar da escola, reclamar da grade curricular, mas para discutir a questão social dentro das escolas, é muito difícil.”
Trajano Jardim
Saúde e assédio
Com toda essa agressividade e constantemente exposição ao estresse, professores e estudantes estão adoecendo mental e emocionalmente. Enquanto os educadores ficam receosos quanto a lidar com os jovens, alunos ficam com medo e ansiosos.
Pelo ponto de vista dos sindicatos, as maiores vítimas dessa violência são os professores que além de sofrerem os assédios por parte dos alunos, sofrem assédios constantes dos pais e da própria instituição.
“Os professores sofrem assédios nas escolas, assédios dos pais, dos alunos, da direção da escola. Além de provocar esse problema da violência, também provoca o desinteresse dos jovens em se tornarem professores. […] A maioria dos professores hoje estão doentes, a maioria absoluta, talvez 95%, por causa do problema do assédio, excesso de trabalho e tudo isso leva a uma banalização da violência.”
Prevenção
A Secretaria de Educação do Distrito Federal afirma que existe um Plano de Urgência pela Paz que está em vigor desde março de 2022, entretanto Luciana Custódio rebate essa informação afirmando que esse plano não tem sido aplicado de fato.
Ela afirma que os planos de contingência que o governo planeja implementar agora após os ataques e suspeitas não irão suprir a necessidade das instituições e que algo a longo prazo deveria ser pensado.
“O GDF anunciou um pacote emergencial. Essa medida não vai surtir o efeito que a sociedade precisa de proteção se não tiver uma política permanente. A minha avaliação é de que não adianta trabalhar em pacotes emergenciais sem uma política de prevenção”, aponta Luciana Custódio.
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Por Ana Beatriz Cabral Cavalcante
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira